Resumo

O acúmulo intramuscular de íons H+ é apontado como um fator limitante para o desempenho em exercícios de alta intensidade. Estratégias com o objetivo de atenuar o acúmulo destes íons têm o potencial de melhorar o desempenho físico. Dentre elas, a suplementação de bicarbonato de sódio (BS) se destaca por aumentar a capacidade tamponante extracelular (CTE), dessa maneira, melhorando o desempenho anaeróbio. Outra estratégia recentemente estudada com o objetivo de aumentar a CTE é a suplementação de lactato. Contudo, os estudos avaliando o seu potencial ergogênico são escassos, e os seus resultados, controversos. OBJETIVO: investigar os efeitos da suplementação crônica de lactato de cálcio (LC) sobre o pH, bicarbonato e excesso de base sanguíneos, bem como sobre o desempenho intermitente, comparando tais efeitos aos do BS. MÉTODOS: 18 atletas (26 ± 5 anos) participaram deste estudo duplo-cego, controlado por placebo, e crossover contrabalanceado. Todos os participantes foram submetidos a 3 diferentes tratamentos: placebo (PL), LC e BS. O BS foi usado como um controle positivo. A dose foi idêntica em todas as condições: 500 mg·kg-1 de massa corporal (MC), divididos em 4 doses diárias de 125 mg·kg-1MC, por cinco dias consecutivos. Foi dado um período de washout de 2-7 dias. No 5° dia de suplementação, os indivíduos realizaram 4 séries de Wingate para membros superiores (30 segundos cada, a 4% da MC), com um intervalo de 3min entre as séries. A cada sessão foi determinado o trabalho mecânico total (TMT) obtido para as 4 séries, para as series iniciais (1º+2º) e para as series finais (3º+4º). O pH, bicarbonato (HCO3), e excesso de base (BE) sanguíneos foram coletados no repouso, imediatamente pós-teste e 5min pós-teste. RESULTADOS: Houve uma redução do pH, HCO3 e BE com o exercício em todas as condições. A suplementação de LC não afetou estes parâmetros em repouso ou após o exercício. Porém, aumentos significantes no BE e HCO3 em repouso foram observados com o BS se comparado ao LC e PL (+0.03 ± 0.04 vs +0.009 ± 0.02 e +0.01 ± 0.03, respectivamente). Tais aumentos promoveram uma melhora no TMT (P = 0.02; +2.9%) e nas séries finais (P = 0.001; +5.9%) com o BS comparado à sessão controle. Já o LC não induziu qualquer mudança sobre o TMT ou das séries iniciais ou finais (todos P > 0.05). CONCLUSÃO: A suplementação crônica de LC não foi capaz de aumentar a CTE ou o desempenho intermitente, enquanto o BS se apresenta como uma melhor estratégia para tais fins.