Resumo
O desenvolvimento motor atípico observado na paralisia cerebral acarreta desordens motoras complexas e, entre tantas, um deficitário controle postural. O sucesso do controle postural depende de propriedades musculares, articulares e dos sistemas sensoriais como a visual, vestibular e somatossensorial. Além destes, o toque háptico, um subsistema do sistema háptico, está envolvido nas atividades de manipulação manual, possibilitando a exploração de propriedades de objetos e, consequentemente a orientação e posicionamento dos segmentos corporais e do corpo como um todo no espaço. Diversos estudos enfatizam as contribuições das aferências hápticas para o controle da postura vindas da exploração de ferramentas rígidas e não rígidas. Entre as ferramentas não rígidas temos o sistema âncora, proposto por Mauerberg-deCastro (2004), que visa manter a estabilidade via informação háptica por meio do manejo de um par de hastes flexíveis com cargas anexadas nas extremidades distais em contato com o chão. O uso do sistema âncora demonstrou sua utilidade ao sistema de controle postural em diversos grupos como: jovens adultos, crianças, idosos e deficientes intelectuais. Tendo isto em vista, o presente estudo se propôs analisar se a deficiência neuromotora no controle postural da paralisia cerebral seria compensada pela integração da informação háptica, sistema âncora, concomitante a tarefas posturais. Participaram do estudo vinte indivíduos com paralisia cerebral (espástica hemiparética, diparética e atáxica). Na tarefa experimental, os participantes permaneceram em postura ortostática sobre uma plataforma de força nas seguintes condições: 1) com as âncoras e com visão; 2) com âncoras e sem visão; 3) sem as âncoras e com visão; 4) sem as âncoras e sem visão. Para todas estas condições duas superfícies de contato para os pés foram utilizadas a própria superfície da plataforma de força (estável) e o uso de uma espuma sobre a plataforma de força (instável). As hastes flexíveis do sistema âncora foram anexadas a células de carga que possibilitaram quantificar a força de puxada bem como o pico máximo de força de puxada envolvidas no manuseio do sistema âncora. Para análise das condições propostas foram utilizadas as variáveis de trajetória total (Traj-total), amplitude média de oscilação anteroposterior e mediolateral (AMO-ap, AMO-ml) e velocidade média anteroposterior e mediolateral (Vm-ap, Vm-ml) do centro de pressão. Os resultados das variáveis do centro de pressão (Traj-total, AMO-ap, AMO-ml, Vm-ap e Vmml) indicaram que a redução na oscilação postural nas tarefas com âncora para sem âncora foi maior quando na superfície instável sem a visão. Ainda, foi possível constatar que não houve diferenças entre manuseio das hastes do sistema âncora entre mão direita e esquerda. Dessa forma, observou-se que frente ao desafio da tarefa, com manipulação das informações visuais e somatossensoriais, os indivíduos com PC puderam beneficiar-se da exploração háptica possibilitada pelo sistema âncora pela exploração de ambas as mãos.