Resumo

A obesidade é caracterizada por um acúmulo excessivo de tecido adiposo. Evidências sugerem haver uma relação direta entre adiposidade e processos inflamatórios subclínicos crônicos. Tal estado inflamatório aumenta os riscos de eventos cardiovasculares em indivíduos obesos, inclusive durante a Infância e adolescência. Entretanto, especula-se que o treinamento físico seja capaz de reverter ou controlar o quadro inflamatório associado à obesidade. Objetivos: O presente estudo tem como principais objetivos: 1) Comparar a contagem de leucócitos e subpopulações entre adolescentes obesos e eutróficos, bem como, verificar sua relação com a aptidão cardiorrespiratória; 2) Verificar os efeitos do treinamento aeróbio em diferentes intensidades sobre a concentração circulante de biomarcadores de inflamação e disfunção endotelial de adolescentes obesos. Métodos: Foram selecionados adolescentes obesos (14,28±2,24 anos / 34,28±4,06 kg/m²) e eutróficos (16,78±1,27 anos / 20,79±1,86 kg/m²), de ambos os gêneros, com idade entre 13 e 18 anos. Após a seleção, os adolescentes obesos foram randomizados em três grupos: Grupo Treinamento de Alta Intensidade (GTAI / n=31), Grupo Treinamento de Baixa Intensidade (GTBI / n=31) e Grupo Controle (GC / n=45). Os adolescentes obesos do GTAI e GTBI foram submetidos à intervenção multidisciplinar com duração de 24 semanas, composto por exercícios físicos, acompanhamentos nutricionais, clínicos e psicológicos. Foram realizadas avaliações de composição corporal, aptidão Cardiorrespiratória e sanguínea, em duas ocasiões: basal e após 24 semanas de intervenção. Os adolescentes eutróficos foram submetidos às mesmas avalições no período basal. Resultados. Os adolescentes obesos apresentaram maiores níveis de leucócitos totais (8,12±2,36 u/Lx10³, p=0,001), neutrófilos (4,33±1,86 u/L x10³, p=0,002) e monócitos (0,70± 0,22 u/L x10³, p=0,002) em comparação aos eutróficos. Após ajuste para idade e IMC, a aptidão física foi negativamente associada com leucócitos totais (p=0,013) neutrófilos (p=0,012) e monócitos (p=0,042) apenas nos adolescentes do sexo masculino. Adicionalmente, após 24 semanas de intervenção multidisciplinar, no GTAI houve redução significativa dos níveis circulantes de monócitos (Basal: 699,5±298,8 u/L; 24 semanas: 523,5±186,8 u/L, p<0,001), VCAM-1 (Basal: 862,6±190,2 ng/ml; 24 semanas: 777,8±118,0 ng/ml, p<0,001) e leptina (Basal: 
33,3±11.5 ng/ml; 24 semanas: 26,8±15,2 ng/ml, p<0,001), e no GTBI houve 11 diminuição dos níveis circulantes de leptina (Basal: 28,9±11,3 ng/ml; 24 semanas: 24,8±12,1 ng/ml, p<0,001). Conclusão: Os resultados do presente estudo apontam evidências de que adolescentes obesos apresentam níveis mais elevados de leucócitos (monócitos e neutrófilos) em comparação com adolescentes eutróficos, sugerindo um estado pró-inflamatório crônico o qual é relacionado à adiposidade e aptidão cardiorrespiratória. Além disso, a intervenção multidisciplinar, com 24 semanas de duração, parece eficiente no controle do estado inflamatório crônico em adolescentes obesos, principalmente via redução da concentração circulante de monócitos, VCAM-1 e leptina, entretanto vale ressaltar que tais resultados são mais pronunciados quando o treinamento é realizado em alta intensidade. 

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