Resumo

Introdução: Para além dos efeitos deletérios da adiposidade excessiva na saúde física dos indivíduos, a obesidade predispõe ao desenvolvimento de alterações psicológicas que interferem negativamente na percepção de qualidade de vida (QV) do paciente obeso. Considerando que a adolescência é a fase da vida de transição, acredita-se ser este o momento mais propício para o tratamento da obesidade através de intervenções multidisciplinares. Contudo, a intensidade do exercício a ser recomendada ainda não esta bem descrita na literatura, especialmente quando se objetiva melhoras na QV. Objetivo: Analisar o efeito de diferentes intensidades de treinamento físico aeróbio sobre a qualidade de vida de adolescentes obesos submetidos à intervenção multidisciplinar de curto (12 semanas) e longo prazo (24 semanas). Métodos: Foram incluídos no estudo adolescentes obesos (IMC = 34,72±4,10 kg/m2 ) de ambos os sexos, com 14,85±1,44anos, púberes e que demonstraram motivação intrínseca para participar de uma intervenção multidisciplinar de longo prazo; como critérios de exclusão: massa corporal (MC) acima de 120kg; doenças genéticas, metabólicas ou endócrinas, além da obesidade; alterações no eletrocardiograma de repouso; consumo crônico de álcool. Os adolescentes foram submetidos à intervenção multidisciplinar por 24 semanas composta por exercícios físicos (3x por semana), acompanhamentos nutricionais (1x por semana), psicológicos (1x por semana) e clínicos (1x por mês). Após a seleção dos voluntários, eles foram alocados em três grupos: Grupo Treinamento Alta Intensidade (GTAI) (n=31), Grupo Treinamento Baixa Intensidade (GTBI) (n=31) e Grupo Controle (GC) (n=45). Para avaliação da composição corporal foi utilizada a técnica de absortometria de feixe duplo de raios-x (DEXA); e a QV foi avaliada pelo questionário Short Form Health Survey (SF-36). As mensurações ocorreram em momentos distintos: basal, 12 e 24 semanas de intervenção. Resultados: Doze semanas de intervenção foram suficientes para promover redução no percentual de gordura (%G) (p<0,001), e aumento na massa magra (MM) (Kg) (p<0,001) no GTAI, GTBI e GC. Adicionalmente, verificou-se diminuição no Índice de Massa Corporal (IMC) (Kg/m²) apenas nos grupos experimentais (GTBI: p<0,001; GTAI: p= 0,049). Ao final das 24 semanas de intervenção, a massa corporal elevou-se apenas no GC sem alterações no GTAI e GTBI. Para todas as demais variáveis as alterações observadas em 12 semanas foram mantidas. Em relação aos domínios da QV, nota-se melhora na percepção da Capacidade Física (CF) no GTAI e GTBI após 12 semanas (GTAI d= 0,747; GTBI d= 0,782). O GTAI melhorou também a percepção dos domínios Estado Geral de Saúde (ESG) (p=0,014) e Média Geral (p=0,002) com efeito moderado para ambos os domínios (d= 0,713; d= 0,535, respectivamente). Quando observadas as 24 semanas, os adolescentes submetidos à intervenção multidisciplinar continuaram a perceber de forma positiva a CF da mesma forma que em 12 semanas. A análise da variação percentual dos domínios da QV sugere que alterações mais pronunciadas tenham ocorrido em resposta ao GTAI quando comparado ao GTBI, e que os efeitos são potencializados após 24 semanas de intervenção multidisciplinar. Conclusão: A intervenção multidisciplinar promove alterações positivas na composição corporal, independente da intensidade de treinamento aeróbio. Entretanto, os achados sugerem que o exercício de alta intensidade produz efeitos mais pronunciados na QV de adolescentes obesos quando comparados ao treinamento de baixa intensidade, e este fato tem sido associado em mais domínios da QV

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