Resumo
O tratamento do câncer de mama (CM), apesar de combater o tumor e melhorar a sobrevida de pacientes, causa efeitos adversos como toxidade, dispneia, dor, fadiga e prejuízos à capacidade funcional (CF) e à qualidade de vida (QV). Em especial, o tratamento hormonal (TH) com Tamoxifeno (Tmx) e Inibidores de Aromatase (IA) que, além dos efeitos adversos apontados, também causam alteração na composição corporal (CCp) e no perfil lipídico (PL). Em contraponto, o treinamento aeróbio (TA) na modalidade home-based (HB) tem sido utilizado para minimizar esses efeitos, porém, ainda não está totalmente elucidada qual a real adaptação que o TA promove na CCp e PL de mulheres em TH. Objetivo: Comparar os efeitos do TA na modalidade presencial e home-based sobre variáveis de transferência lipídica para HDL, PL, glicemia, insulinemia, biomarcadores metabólicos (adiponectina e leptina), composição corporal, nível de atividade física, consumo alimentar, capacidade funcional e capacidade cardiorrespiratória, dor e qualidade de vida de mulheres que utilizam Tmx e IA para tratamento do CM. Método: Participaram do estudo 59 mulheres, na faixa etária de 30 a 75 anos, que foram alocadas em 4 grupos: mulheres em TH na modalidade presencial (MP) (HMP) (n=11) e HB (HHB) (n=14), mulheres sem câncer (SC) na MP (SCMP) (n=15) e HB (SCHB) (n=19). O TA teve duração de 24 semanas, com 3 sessões/semana, intensidade equivalente a 50-89% da frequência cárdica máxima. As modalidades HB e MP seguiram o mesmo protocolo de TA, como também a recomendação dietética realizada uma vez por semana. As avaliações foram realizadas antes da intervenção, após 12 e 24 semanas de TA e após 12 semanas do término das intervenções, conforme a descrição: transferência lipídica (TL) para HDL in vitro; PL (colesterol total, High Density lipoprotein (HDL-C), não-HDL, Low Density Lipoproteins (LDL-C) e triglicérides (TG)), glicemia e insulinemia (kit colorimétrico enzimático); Marcadores metabólicos (Adiponectina e leptina) (ELISA); CCp foi estimada por impedância bioelétrica; Nível de atividade física (NAF) por acelerômetros; CF e capacidade cardiorrespiratória (CCr) por teste de caminhada de 6min e teste ergométrico, respectivamente; Dor, QV e consumo alimentar (CA) por meio de questionários e registro alimentar, respectivamente. Os dados foram analisados por meio da ANOVA de medidas repetidas no software SPSS 25.0, com α de 5%. Resultados: A TL de colesterol estratificado (p=0,048) e esterificado (p=0,028) reduziu após 24 semanas apenas no HHB. O PL não apresentou alterações significativas nos grupos, porém houve algumas tendências de redução para os seguintes marcadores: Colesterol total para mulheres SC, TG para o grupo HHB e SCMP, além de níveis menores de glicose no HHB. Não houve alteração significante para marcadores metabólicos, CCp e dor, porém foram encontradas respostas positivas para CA, CF, CCr, QV (p<0,05) e tempo sedentário (min/sem) (ηp2=0,447). Conclusões: O treinamento HB apresentou resultados semelhantes (glicemia, insulinemia, biomarcadores metabólicos, CCp, NAF, CA, CCr e dor) e superiores (CF e QV) ao MP. A despeito desses resultados positivos proporcionados no HB, a resposta do TA a TL para HDL não foi suficiente para reverter os efeitos deletérios do Tmx e dos IA. Sendo assim, o TA na modalidade HB é uma estratégia efetiva e não farmacológica para melhora do CA, CF, NAF, CCr e QV de mulheres em TH para CM.