Resumo

A Síndrome do Risco Cognitivo-Motor (SRCM) é caracterizada por queixas subjetivas de memória e velocidade da marcha reduzida. O compartilhamento da região do córtex pré-frontal exerce função para o controle da marcha e cognição, assim, pessoas idosas com SRCM apresentam maior risco para demência e episódios de quedas. Devemos destacar que, grande parte das atividades de vida diária necessitam do gerenciamento de tarefas motoras e cognitivas de forma simultânea (dupla tarefa), o que pode aumentar as chances de quedas nessa população. Dessa forma, estratégias não farmacológicas como o Treinamento de Força (TF) podem ser inseridas, a fim de mitigar o impacto do declínio físico, cognitivo e reduzir o risco de quedas. Alternativamente, práticas meditativas como o Mindfulness (Mind) são intervenções promissoras para cognição e mobilidade em idosos. Considerando que idosos com SRCM apresentam declínios físicos e cognitivos, e que a maior parte das atividades da vida diária compartilham essa interação. Espera-se que, inserir o Mindfulness após o TF ofereça efeitos sinérgicos, capazes de atenuar ou mesmo reverter os efeitos deletérios da SRCM. OBJETIVO: Avaliar os efeitos de 24 semanas do TF e Mindfulness sobre a mobilidade com dupla tarefa e indicadores do risco de quedas em pessoas idosas com SRCM. MÉTODOS: Trata-se de um ensaio controlado aleatorizado, aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade de Pernambuco (CAAE: 38402120.0.0000.5195) e registrado na plataforma de Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos (RBR-5z5h789). Vinte e quatro idosos com SRCM foram alocados aleatoriamente em: 1) TF- Mind ou 2) TF. Os desfechos primários incluíram mudanças na mobilidade com e sem dupla tarefa durante o teste Timed Up and Go (TUG) e Custo da Dupla Tarefa (CDT). Os desfechos secundários incluíram medidas complementares sobre a confiança no equilíbrio (Activities-specific Balance Confidence - ABC-6) e preocupação com quedas (Falls Efficacy Scale-International - FES-I). Essas medidas foram obtidas por avaliadores cegos e ocorreram na linha de base e ao final de 24 semanas de intervenção. Os indivíduos alocados no grupo TF- Mind realizaram treinamento duas vezes por semana, com duração total variando entre 45-60 minutos. O programa de TF foi composto por cinco exercícios (supino horizontal, abdominal, leg press, remada e agachamento). Dispositivos de instabilidade (ex., fitas de suspensão, bola suíça, discos de equilíbrio) foram adicionados para aumentar a complexidade motora. A prescrição envolveu três séries fixas e repetições variando de 8-20, com intervalo de recuperação de até dois minutos. Em relação ao treinamento de Mindfulness, exploramos seis práticas formais (escaneamento corporal, respiração, caminhada atenta, sons e pensamentos, movimento atento, compaixão). Os participantes alocados no TF realizaram apenas o programa de exercícios. A comparação entre grupos foi realizada por meio dos modelos lineares mistos, considerando a diferença entre médias entre os grupos e os seus respectivos intervalos de confiança de 95%, utilizando o programa SPSS versão 22. Resultados: A amostra foi composta por 83,3% de mulheres, com idade média de 72 ± 7,37 anos, velocidade da marcha de 86,48 ± 9,60 e pontuação no Montreal Cognitive Assessment (MOCA) 18,39 ± 4,86 pontos. Os resultados do presente estudo não demonstram diferenças significativas para todos os desfechos avaliados. Os resultados para os desfechos primários foram: Timed Up and Go (1,20, IC 95%: [-0,33; 2,74]), TUG cognitivo números (1,03 [-1,20; 3,27]), TUG cognitivo animais (2,07 [-1,17; 5,32]), CDT – números (2,03 [-8,16; 12,22]), CDT – animais (-2,74 [-22,84; 17,35]). Enquanto os resultados para os desfechos secundários incluíram: FES-I (-0,91 [-7,89; 6,06]) e ABC-6 (1,03 [-24,63; 26,70]). Conclusão: A realização TF com ou sem a adição de Mindfullness não promoveu benefícios significativos sobre a mobilidade com e sem dupla tarefa, bem como os indicadores de preocupação com quedas e confiança no equilíbrio. Ressaltamos que esses resultados são preliminares, necessitando assim de um tamanho amostral maior para verificar o efeito do TF sobre os desfechos investigados.