Resumo

Introdução: A obesidade é considerada uma pandemia global e fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (DCVs). Evidências recentes sugerem que a pressão arterial central (PAc) está fortemente associada com as DCVs. O aumento da rigidez arterial (RA) é o principal fator associado ao aumento da PAc. O treinamento aeróbio é capaz de promover a redução da PAc. Entretanto, pouco se sabe sobre o impacto de diferentes modalidades de treinamento aeróbio sobre a PAc. O treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) tem sido considerado uma alternativa ao treinamento contínuo de intensidade moderada (MICT) tendo em vista sua superioridade na melhora da aptidão cardiorrespiratória e de outros parâmetros de saúde. Contudo, a superioridade do HIIT na melhora da PAc ainda precisa ser elucidada. Portanto, os objetivos da presente dissertação foram: 1. Revisar os efeitos crônicos do treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) versus o treinamento contínuo de intensidade moderada (MICT) sobre a PAc; 2. Investigar os efeitos do HIIT versus MICT sobre a PAc e rigidez arterial em mulheres obesas jovens. Métodos: A revisão sistemática e meta-análise foi conduzida conforme o PRISMA e registrado no PROSPERO (CRD42018111573). A busca dos ensaios clínicos randomizados foi realizada em cinco bases de dados eletrônicas (Pubmed/Medline, Web of Science, Cochrane, Lilacs e Scielo). Foi pesquisado estudos que compararam os efeitos crônicos do HIIT versus o MICT sobre a PAc, também foi extraído destes estudos os valores para a PAp, RA e VO2máx. A meta-análise foi conduzida no software Review Manager® e os dados foram apresentados como diferença média padronizada (SMD), com seus respectivos intervalos de confiança de 95%. Utilizamos o modelo de efeitos aleatórios para reduzir a influência da heterogeneidade e comparar as alterações da PAc, PAp, RA e VO2máx após HIIT e MICT. Para o estudo experimental de design paralelo, participaram 25 mulheres jovens com obesidade grau I e II. Foram avaliadas as medidas antropométricas, composição corporal e aptidão cardiorrespiratória. As principais medidas de rigidez arterial mensuradas foram a velocidade da onda de pulso (VOP) carótida-femoral, Augmentation Index (AIx), Aix@75 e também a pressão arterial periférica e central, sendo, sistólica, diastólica e de pressão de pulso pelo equipamento SphygmoCor®. As avaliações foram realizadas antes e após o período de treinamento de 8 semanas. As voluntárias foram alocadas aleatoriamente em dois grupos: HIIT (4 estímulos de 4 minutos de exercício na intensidade entre 85 e 95% da FCmáx, alternados por períodos de 3 minutos de recuperação ativa na intensidade entre 65 e 75% da FCmáx) ou MICT (41 minutos na intensidade entre 65 e 75% da FCmáx). Para a comparação entre os grupos (HIIT e MICT) e entre os momentos de avaliação (pré e pós) foi utilizada a ANOVA para medidas repetidas, seguido da correção de Bonferroni. Adotou-se o valor de p<0,05 para significância estatística. Resultados: Inicialmente, 1409 artigos foram identificados para compor a revisão sistemática com meta-análise. Após aplicação dos critérios de elegibilidade, sete artigos envolvendo 196 participantes foram incluídos na meta-análise. Ao comparar as mudanças pré e pós HIIT e MICT, não houve diferença significantativa para a pressão arterial sistólica central (PASc) (SMD -0,13 [IC95%, -0,47 a 0,21], p = 0,45, I² = 25%) e para a PADc (SMD 0,15 [IC95%, -0,15 a 0,46], p = 0,32, I² = 20%). Quanto as variáveis secundárias, não houve diferença significante para a pressão arterial sistólica periférica (PASp) (SMD -0,23 [IC95%, -0,52 a 0,06], p = 0,12, I² = 10%), pressão arterial diastólica periférica (PADp) (SMD -0,02 [IC95%, -0,30 a 0,27], p = 0,91, I² = 11%), velocidade de onda de pulso (SMD 0,18 [IC95%, -0,12 a 0,48], p = 0,24, I² = 4%) e augmentation index (AIX)(SMD -0,27 [IC95%, -0,75 a 0,21], p = 0,27, I² = 46%). No estudo experimental, tanto o HIIT como o MICT reduziram significativamente a VOP (Δ = -0,37 ± 0,2, p <0,001 e Δ = -0,35 ± 0,3, p <0,001, respectivamente). Além disso, houve redução significante na PAc sistólica (Δ = -6,6 ± 6,8, p = 0,010, no augmentation pressure (AP) (Δ = -3,0 ± 5,1, p = 0,033) e tendência à redução no AIx (Δ = -6,4 ± 14,8, p = 0,092) e AIx @ 75 (Δ = -7,6 ± 15,1, p = 0,053) após o HIIT e da PAc diastólica (Δ = - 3,6 ± 5,0, p = 0,026) após o MICT. Conclusão: Com base nos achados da revisão sistemática com meta-análise, o HIIT e MICT foram similares na redução da PAc, PAp e RA na população saudável ou em condição especial de saúde. Dessa forma, ambos os TA podem ser utilizados na melhora dos parâmetros hemodinâmicos centrais e na saúde arterial. De forma similar, no estudo experimental, ambos os protocolos HIIT e MICT reduziram a RA em mulheres jovens obesas. Contudo, apenas o HIIT foi capaz de reduzir a PAc e a amplificação da pressão, sugerindo que o HIIT poderia ser superior ao MICT na melhora dos parâmetros hemodinâmicos centrais nessa população.


 

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