Resumo

Todas as informações conscientes aferentes e eferentes somáticas são armazenadas no córtex cerebral e formam um mapa neural denominado somatotopia. Esse mapa, chamado de esquema corporal, localiza-se na região temporoparietal e é alimentado por aferências que interagem com o sistema motor e proporcionam ao indivíduo a capacidade de reconhecer todas as partes do seu corpo de olhos fechados. A expressão corporal depende de um esquema corporal estruturado. Alguns indivíduos apresentam essa percepção além do real (hiperesquematia) e outros aquém do real (hipoesquematia). A integração sensoriomotora pode ser alterada na presença de dor crônica, na qual os estímulos periféricos alteram o esquema corporal e o gesto motor. Além disso, a dor crônica pode alterar os estados de humor interferindo na saúde mental dos indivíduos. O atleta de alto rendimento tem dor crônica e, apesar disso, ele treina e compete. A sensação e a intensidade da dor podem alterar os estados de humor de um atleta e interferir no seu desempenho. Este estudo tem como objetivo avaliar o esquema corporal de atletas de alto rendimento de ambos os sexos com dor crônica e como a dor interfere na agilidade motora e nos estados de humor. A amostra foi composta por 36 sujeitos divididos em dois grupos: um grupo praticante de atividade física sem dor (n=20) e outro formado por atletas de alto rendimento com dor crônica (n=16). Para avaliar o esquema corporal foram utilizados dois testes diferentes que mostram a percepção corporal de cada sujeito: o Procedimento de Marcação do Esquema Corporal (IMP) e o Aparato Cinestésico de Estimativa de Largura Corporal (KSEA) ambos relacionados a reparos anatômicos específicos: altura da cabeça, acrômio, cintura e trocânter maior. Para analisar a quantidade de pontos dolorosos presentes nos indivíduos, utilizou-se a digitopressão. Para avaliar a agilidade motora foi utilizado o teste de Grooved Pegboard e para os estados de humor, o teste POMS. Em relação aos segmentos corporais, o IMP de ambos os grupos mostrou hipoesquematia para a altura da cabeça e hiperesquematia para a largura dos demais segmentos, principalmente com relação à percepção da largura da cintura, independente de grupo ou sexo. A análise do grupo com dor mostrou diferença significativa entre os sexos, na qual os homens apresentaram maior percepção da largura dos ombros e da cintura e as mulheres da largura do trocânter. O KSEA mostrou hiperesquematia para todos os segmentos corporais no grupo sem dor independente do sexo. O grupo com dor apresentou hipoesquematia exceto para a largura da cintura. Houve diferença significativa no grupo com dor do sexo feminino na largura do trocânter e, assim como no IMP, a cintura foi o segmento com maior diferença significativa. Em relação às assimetrias corporais, o IMP mostrou hiperesquematia para todos os segmentos corporais. A correlação de Pearson mostrou que não existe correlação entre os dois testes. A análise da presença de pontos dolorosos não mostrou diferença significativa nem entre os dois grupos nem entre os sexos. Foi observada uma agilidade motora significativamente maior no sexo feminino do grupo com dor. A saúde mental foi caracterizada como positiva em ambos os grupos. No entanto, o sexo masculino no grupo com dor apresentou prevalência de fadiga e confusão enquanto o sexo feminino apresentou maior significância quanto à raiva. Concluímos que a dor crônica não interfere na percepção do esquema corporal assim como não diminui o desempenho motor e não interfere.

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