Resumo

Na doença de Parkinson (DP) a marcha se torna consciente, desconcentrados os portadores tendem a tropeçar e cair. Neste contexto, o treino da marcha com o auxílio de estímulos externos vem se mostrando uma alternativa interessante para driblar os sinais da DP. Sendo assim, este estudo quase-experimental de caso único (A-B-A) teve como objetivo analisar os efeitos de um programa de treinamento da marcha, baseado em estímulos audiovisuais, em variáveis motoras relacionadas à marcha de um indivíduo com a DP. Para isso, foi analisado um parkinsoniano com 69 anos de idade, sendo portador da doença há 12 anos e classificado clinicamente no estágio três da DP (H&Y). Para a análise da marcha foi utilizada a cinemetria 3D, através do sistema DMAS 5.0 da SPICAtek®. O estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFSC (processo 035/08). Após as coletas de dados referentes à linha de base (A1) (3 vezes/semana durante 5 semanas) o processo de intervenção (B) foi iniciado, consistindo em 15 sessões de treino da marcha (3 vezes/semana), com duração de 30 minutos/sessão. Nas sessões o indivíduo caminhava com velocidade auto-selecionada enquanto era submetido a estímulos visuais e sonoros simultâneos. Os estímulos visuais eram gerados por um Sistema de Estimulação Visual da Marcha (apontador laser fixado no tórax do indivíduo projetando uma marcação no solo) desenvolvido especificamente para este estudo. Para gerar os estímulos sonoros utilizou-se um metrônomo regulado em uma frequência específica de pulsos para regular a cadência da marcha. Após finalizar a fase B iniciou-se a fase de verificação da retenção dos efeitos causados pela intervenção (A2). Foram mensuradas as variáveis espaço-temporais cadência (CAD), velocidade (v), comprimento de passo direito (CP-D) e esquerdo (CP-E), comprimento total do ciclo (CTC), largura de passo (LP), tempo de apoio duplo direito (TAD-D) e esquerdo (TAD-E), tempo de apoio simples direito (TAS-D) e esquerdo (TAS-E), tempo de passo direito (TP-D) e esquerdo (TP-E) e tempo total do ciclo (TTC). Para verificar os efeitos da intervenção utilizou-se o método estatístico da Banda de Dois Desvios-Padrão (p<0,05). Os resultados indicaram comprometimentos em todas as variáveis da marcha do indivíduo analisado previamente a introdução da intervenção. Foi observado baixo índice de variabilidade (CV<10%) no comportamento de todas as variáveis em A1. Onze variáveis (CP-D, CP-E, CTC, CAD, v, TP-D, TP-E, TAD-D, TAD-E, TAS-E, TTC) apresentaram melhoras significativas com a introdução da intervenção audiovisual, aproximando-as do padrão de normalidade da marcha. Estes efeitos permaneceram presentes por pelo menos cinco semanas após a retirada dos estímulos, demonstrando a retenção dos efeitos da intervenção. De maneira geral, pode-se dizer que a intervenção realizada contribuiu para a regulação da marcha do indivíduo estudado, inclusive demonstrando efeitos duradouros.

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