Resumo

Introdução: Promover o estilo de vida ativo tornou-se preocupação central na esfera da saúde pública. Evidências da associação positiva entre atividade física e saúde são abundantes. Entretanto, existem lacunas sobre efeitos de intervenções baseadas no quantitativo de passos diários, bem como de mecanismos fisiológicos implicados.

Objetivos: Verificar os efeitos do incremento de 3500 passos diários, durante três semanas, sobre a função autonômica cardíaca (FAC) e o desempenho físico no limiar anaeróbico, em indivíduos normais e insuficientemente ativos. Avaliar a efetividade do aumento do número de passos diários e correlacionar esse incremento com a variabilidade da freqüência cardíaca (VFC) e com variáveis de desempenho físico no limiar anaeróbico (LA).

Indivíduos e Métodos: Foram estudados 19 homens, com idade mediana de 30 anos (19 - 46 anos), clinicamente normais, sedentários e com IMC entre 18,5 e 29,9 Kg/m 2 . Os participantes submeteram-se ao teste de avaliação da FAC, por meio das análises temporal e espectral da VFC de séries temporais de 5 min de intervalos R-R do ECG, obtidos por meio do freqüencímetro Polar S 810 ® , no repouso supino e na postura ortostática. Seqüencialmente registrou-se o padrão usual de passos diários por ± 18 dias, por meio do pedômetro Yamax SW710 ® (fase controle). Logo após, submeteram-se a nova avaliação da FAC e ao teste ergoespirométrico (TE) para avaliação do desempenho físico ao nível do LA. Iniciou-se, então, a fase de intervenção com incremento mínimo de 3.500 passos diários durante ± 23 dias, calculado sobre a média de passos diários acumulados em dias de semana na fase controle. Ao término, procedeu-se à nova avaliação da FAC, bem como do desempenho físico no LA.

Resultados: A mediana e extremos do número de passos/dia na fase de intervenção (11772, 8998 – 18620) foi superior ao registrado na fase controle (7295, 4700 – 14752) (p<0,0001). As variáveis funcionais de repouso (FC, PAS e PAD) e antropométricas (peso e IMC) não se alteraram com a intervenção (p>0,05). A maioria dos índices temporais da VFC ficaram estáveis (p>0,05), à exceção da média dos intervalos R-R (supino e ortostático) e do rMSSD no ortostatismo (p=0,07 – 0,05 e 0,07). Dos índices espectrais, apenas a área espectral de baixa freqüência no supino mostrou tendência estatística de redução (p=0,076). A intervenção provocou aumento do desempenho físico no LA, com incremento médio de 8% na distância percorrida (p=0,02) e de 6% no tempo até o LA (p=0,03), sem, entretanto, modificar o consumo de oxigênio e a FC no LA (p>0,12). Observou-se tendência de correlação positiva entre o incremento percentual de passos e o pNN50 e a área espectral absoluta de baixa freqüência no supino na última avaliação (r s = 0,39 - p = 0,09) e o pNN50 e rMSSD na postura ortostática (r s = 0,44 - p = 0,06). Houve correlação negativa entre a FC de repouso e a variação percentual da FC de repouso até o LA, nos dois testes de esforço (r s = -0,67 e -0,69 respectivamente, p< 0,002).

Conclusões: O incremento no número de passos diários induziu discreto aumento da modulação parassimpática, especialmente na postura ortostática, porém sem modificar o balanço vago-simpático. O treinamento físico mostrou-se eficiente para melhorar o rendimento físico submáximo ao nível do limiar anaeróbico. As sutis modificações observadas adquirem relevância, tendo em vista a faixa etária da amostra e o tipo de intervenção instituída, baseada apenas no aumento de passos diários.

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