Resumo

Introdução: Apesar de ser uma substância extensivamente estudada no âmbito do desempenho físico, a cafeína e seus efeitos no desempenho em altitude (hipóxia) foram estudados em apenas 2 investigações científicas (Berglund & Hemmingsson 1982; Fulco et al 1994), sugerindo que esta tem seus efeitos potencializados nesse ambiente. As únicas variáveis analisadas foram percepção de esforço e parâmetros cardiorrespiratórios. Porém, um dos mecanismos de ação sugeridos da cafeína é no sistema neuromuscular que, em hipóxia, sofre com uma mais rápida ocorrência de fadiga. Objetivo: Investigar o efeito da cafeína no desempenho aeróbio em hipóxia nos parâmetros psicofisiológicos, em particular seus efeitos na fadiga periférica e central. Métodos: Sete sujeitos (29 ± 6 anos, 179 ± 8 cm, 75 ± 8 kg, VO2máx 51 ± 5 ml.kg-1) participaram desse estudo duplo-cego e randomizado. Primeiro realizaram um teste incremental máximo em hipóxia (FIO2 = 0,15) para determinar a potência pico. A segunda e terceira visita consistiu em um período fixo de 6 min de exercício, seguido de um teste constante até a exaustão, ambos a _80% da potência pico e em hipóxia. Lactato, SpO2, percepção de esforço, frequência cardíaca, e fadiga periférica e central foram mensuradas. Resultados: Durante o teste incremental, a potência pico alcançada foi de 275 ± 38 W, com valores finais de percepção de esforço, lactato, frequência cardíaca e SpO2 de 18 ± 1, 13 ± 2 mmol/l, 179 ± 10 bpm, e 81 ± 5%, respectivamente. Tempo até a exaustão foi significativamente maior (11,8%) na condição cafeína (402 ± 137 s) comparado à condição placebo (356 ± 112 s) (P = 0,016). Tempos individuais foram maiores com cafeína em 6 dos 7 sujeitos. Variação intra-sujeito foi de -5 a 23% (-10 a 74 s). Cafeína teve um impacto significativo na subescala de humor fadiga, apresentando menores valores, enquanto a subescala vigor apresentou tendência a ser maior nessa condição. A percepção de esforço apresentou menores valores para o grupo cafeína durante o teste até exaustão. Tanto para o período de 6 minutos como durante o teste de tempo até a exaustão, a frequência cardíaca foi maior para o grupo cafeína. Enquanto SpO2 foi menor para o grupo cafeína apenas durante o período de 6 minutos, os valores de lactato não diferiram entre os grupos, mas apresentaram tendência a maiores valores na condição cafeína. Os valores de contração voluntária máxima apresentaram declínio significativo, com maior queda para o grupo cafeína. Já os valores de ativação voluntária e estímulos duplos, apesar de decrescerem, não foram diferentes entre as condições. Por fim, todos os parâmetros de oxigenação não diferiram entre as condições. Conclusão: O efeito ergogênico da cafeína em altitude ocorreu concomitantemente a alterações no estado de humor, percepção de esforço, sinais eletromiográficos, frequência cardíaca e contração voluntária máxima. 

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