Resumo

O objetivo desta pesquisa, de delineamento quase-experimental, foi verificar os efeitos da intervenção motora em três diferentes contextos - abordagens individual no domicílio (ID), individual na creche (IC) e grupo na creche (GC) - no desenvolvimento motor e social de crianças com atrasos motores, na faixa etária entre 06 e 18 meses de idade, residentes em bairros da periferia do município de Porto Alegre/RS, assistidas por unidades básicas de saúde vinculadas ao Hospital Moinhos de Vento e amparadas por creches comunitárias conveniadas com a prefeitura. Descrições do comportamento de cada criança antes e após o período interventivo e características do seu ambiente domiciliar foram associadas ao seu desempenho motor. A amostra desta pesquisa foi voluntária, selecionada de forma não-probabilística e intencional. A partir de uma população de 96 crianças avaliadas, 40 apresentaram percentil de desempenho motor abaixo de 25%, e destas, 32 crianças finalizaram as 24 sessões de intervenção motora, no período de 12 semanas. Cada grupo interventivo ficou assim distribuído: ID n=12, IC n=7 e GC n=13. Os instrumentos utilizados neste estudo foram a escala comportamental das Bayley Scales of Infant Development II (BSID-II), a Alberta Infant Motor Scale (AIMS) e o questionário Affordances in the Home Environment for Motor Development Self-Report (AHEMD-SR). O programa de intervenção, realizado entre maio e novembro de 2007, foi constituído por atividades lúdicas com o intuito de alongar e adequar o tônus muscular, estimular o acompanhamento visual e auditivo, controlar as posturas em diferentes circunstâncias, manipular objetos e deslocar-se, a fim de oportunizar às crianças a experimentação de novas condições de movimento e a superação de desafios. Todos os dados coletados foram analisados através do programa estatístico SPSS para Windows, versão 13.0. Para estas análises, o nível de significância adotado foi p≤0,05. O resultado do Teste de Normalidade Shapiro-Wilk, aplicado nos escores de desempenho motor na primeira avaliação, sugere que os dados não se apresentaram normalmente distribuídos (p=0,04). Desta forma, foram utilizados testes não-paramétricos. Na comparação das variáveis nos dois períodos avaliativos (pré e pós intervenção), o Teste de Kruskal-Wallis foi utilizado e, na presença de diferença significativa entre os grupos, o Teste Complementar de Mann-Whitney. Na comparação do percentil de desempenho motor de cada grupo ao longo do tempo (antes e após o período interventivo), com a finalidade de verificar o efeito do programa de intervenção motora, aplicou-se o Teste de Wilcoxon. Na descrição dos resultados, utilizou-se a mediana e a amplitude interquartílica (P25-P75). Os resultados evidenciaram mudanças significativas no desempenho motor nos três diferentes grupos (ID p=0,014, IC p=0,028 e GC p=0,005), e suportam a hipótese de que crianças com atrasos motores participantes do programa de intervenção apresentariam incremento no seu desempenho motor quando comparadas à avaliação inicial. As observações do comportamento das crianças desta amostra corroboram o pressuposto de que elas apresentariam, após a intervenção, incremento no seu desempenho social. A análise da variação dos escores totais de oportunidades de estimulação no lar, utilizando-se o Teste Qui-quadrado de McNemar, não evidenciou mudanças estatisticamente significativas nos diferentes grupos do estudo (p=1,000), rejeitando o pressuposto de que o programa de intervenção teria impacto positivo no contexto familiar, favorecendo mudanças significativas de engajamento nas diferentes atividades infantis rotineiras, bem como nas atitudes familiares frente às restrições destas crianças. Estratégias interventivas vinculadas ao contexto do desenvolvimento de crianças com atrasos motores promovem incremento em seu desempenho motor e social, e a identificação da criança de risco permite o acompanhamento precoce e a compreensão de suas necessidades. Estes achados sugerem a necessidade de programas de intervenção para famílias de baixa renda que otimizem as oportunidades de estimulação também no ambiente domiciliar.

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