Resumo

A lipoaspiração é a cirurgia estética mais comumente realizada pelas mulheres no mundo. Uma vez que o tecido adiposo é um órgão metabolicamente ativo, alguns autores sugeriram que a remoção cirúrgica do tecido adiposo subcutâneo (TAS) pudesse exercer efeitos importantes no perfil metabólico. Além disso, estudos experimentais observam ganho de gordura compensatório no tecido adiposo intacto em resposta à lipectomia. O exercício físico regular induz a inúmeras melhoras no perfil metabólico e na composição corporal, promovendo o aumento do gasto energético total e preservação da massa magra. Estudos sobre os efeitos integrados do exercício e da lipoaspiração em humanos são inexistentes na literatura. Desta forma, este estudo visou avaliar o efeito da lipoaspiração acompanhada de treinamento físico sobre o perfil metabólico, a adiposidade e a distribuição de gordura corporal em mulheres adultas e eutróficas (20 a 35 anos; IMC: 23,8 ± 2.2 Kg/m2). Trinta e seis mulheres foram submetidas à cirurgia de lipoaspiração abdominal. Dois meses após a cirurgia, as voluntárias foram divididas em dois grupos: treinado (LT; n=18) e sedentário (LS; n=18). O treinamento físico consistiu de treinamento aeróbio e de força, 3x/semana, por 16 semanas. A metodologia empregada incluiu avaliação do peso corporal, composição corporal (pesagem hidrostática), distribuição da gordura abdominal (tomografia computadorizada), consumo alimentar (diário alimentar), perfil lipídico, concentração de citocinas anti e proinflamatórias, de adiponectina e de leptina antes (PRE), dois meses após a cirurgia (POS-2) e seis meses após a cirurgia (POS-6). A capacidade física (determinada pelo VO2max, e por testes de repetição máxima para membros inferiores e superiores), a taxa metabólica de repouso (TMR) (calorimetria indireta), a determinação do diâmetro médio dos adipócitos e a expressão gênica dos fatores de transcrição para adipogênese, das citocinas anti e proinflamatórias, da leptina e da adiponectina no tecido adiposo subcutâneo abdominal e femoral foram avaliadas nos tempos PRE e POS-6. O consumo alimentar permeceneu inalterado ao longo do estudo. Seis meses após a cirurgia, o grupo LS apresentou tendência ao retorno do peso e da massa gorda total aos valores basais, bem como aumento do tecido adiposo visceral (TAV) e queda da TMR. O grupo LT também apresentou queda da TMR, mas manteve os valores de peso corporal e de massa gorda diminuídos em resposta à cirurgia no POS-6 e apresentou aumento da massa magra e manutenção do TAV. Ambos os grupos apresentaram queda das concentrações de adiponectina e aumento do colesterol total, da LDL-colesterol e da razão LDL/Apolipoproteína B no POS-6. Por meio dos resultados, podemos concluir que a remoção do tecido adiposo abdominal subcutâneo (TAS) em sujeitos eutróficos parece desencadear mecanismos que favorecem a reposição e o crescimento compensatório de tecido adiposo, em especial na cavidade visceral, além de acarretar na diminuição das concentrações de adiponectina, sugerindo possíveis efeitos deletérios no risco cardiovascular em longo prazo. A prática de exercício físico após a cirurgia é de extrema importância para preservar os efeitos da cirurgia na composição corporal, prevenir contra o crescimento compensatório de gordura na cavidade visceral e atenuar seus possíveis efeitos deletérios no metabolismo em longo prazo.

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