Resumo

O uso de quimioterápicos à base de platina, como a oxaliplatina (Oxa), é a primeira linha de tratamento para pacientes com câncer colorretal. Contudo, dois eventos adversos bastante incidentes nesse tratamento são a dor neuropática e a perda de massa muscular. A eletroestimulação percutânea auricular vagal (paVNS), que promove efeito anti-inflamatório sistêmico, e o treinamento resistido (TR), que promove reestruturação neuromuscular, são terapias que podem melhorar a qualidade de vida desses pacientes. Objetivo: Analisar os efeitos do TR associado ou não à paVNS em animais inoculados com Oxa. Métodos: Ratos Wistar foram divididos em três grupos experimentais (n=5/grupo): 1) TR + veículo + paVNS sham; 2) TR + Oxa + paVNS sham e 3) TR + Oxa + paVNS ON (CEUA HSL 2023-01). Os animais foram avaliados frente aos fenômenos de hiperalgesia e alodínia mecânica, bem como no teste de carga carregada máxima (TCCM). Animais foram adaptados ao modelo de “escalada de escada”, avaliando a carga inicial individual, bem como a final na 12ª sessão de TR progressivo (em cada sessão, foram realizadas duas escaladas com as seguintes cargas: 50%, 75%, 100%, +35g). O TR teve duração de quatro semanas. Na terceira semana de TR, 1 h após o treinamento, os animais foram anestesiados (isoflurano) e submetidos a primeira sessão de paVNS (20 min, frequência randômica) ou sham. Em seguida, ainda sob anestesia, receberam o primeiro ciclo de Oxa (6 mg/Kg, i.p.) ou solução glicosilada (veículo). No total, foram três ciclos de Oxa/semana/duas semanas (dose cumulativa de 36 mg/kg). Antes de cada ciclo de Oxa, os animais receberam paVNS ON ou paVNS sham. Análise estatística: ANOVA seguido de Tukey, com índice de significância de p<0,05. Resultados: Os ciclos de OXA induziram os fenômenos de dor neuropática [hiperalgesia na pata direita (p=0,0001) e esquerda (p=0,0001) e alodínia na pata direita (p=0,0001) e esquerda (p=0,0001)], e o tratamento com paVNS foi capaz de prevenir esses fenômenos. Com relação ao TCCM, os ciclos de Oxa induziram uma redução significativa de 28% e 20% na carga final em comparação aos demais grupos (p=0,002). Conclusão: Nossos dados nos permitem sugerir que o tratamento com paVNS, antes dos ciclos de Oxa, previne a dor neuropática auxiliando sinergicamente no ganho de força decorrente do TR. A busca por terapias não farmacológicas, como o TR e o paVNS, podem resultar numa melhora da qualidade de vida de pacientes oncológicos, essencial para a continuidade do tratamento antineoplásico e mitigação dos desfechos negativos associados à quimioterapia. Desta forma, novos estudos devem enfatizar na caracterização dos efeitos neuromusculares decorrentes da associação de TR e paVNS durante a quimioterapia.

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