Resumo

No climatério observa-se aumento do risco cardiovascular, o qual tem sido associado à redução do papel protetor dos hormônios sexuais femininos nesta fase. Considerando o importante papel da disautonomia cardiovascular como fator de risco para o desenvolvimento de doença cardiovascular, bem como o possível envolvimento do estresse oxidativo cardíaco nesta disfunção, intervenções farmacológicas e não-farmacológicas, como a terapia hormonal (TH) e o treinamento físico (TF), que reduzam o estresse oxidativo e/ou melhorem a função autonômica têm sido vistas como potenciais estratégias no manejo do risco cardiovascular. O objetivo do presente estudo foi verificar os efeitos da terapia estrogênica (17ß estradiol, 1,5 mg/9 semanas), associado ou não ao TF aeróbico (8 semanas em esteira ergométrica) em parâmetros hemodinâmicos, de controle autonômico cardiovascular, de estresse oxidativo e na concentração de nitritos e nitratos em ratas submetidas à privação dos hormônios ovarianos (retirada bilateral dos ovários). Ratas fêmeas Wistar foram divididas em grupos: controle saudável (CS, n=8); oofectomizado sedentário (OS, n=12); oforectomizado treinado (OT, n=12); ooforectomizado + TH sedentário (OPS, n=10) e ooforectomizado + TH treinado (OPT, n=12). Os resultados evidenciam maior peso corporal do grupo OS ao final do protocolo comparado aos demais grupos. Os grupos submetidos à TH apresentaram menor peso corporal dos que os grupos somente ooforectomizados. A velocidade máxima no teste de esforço foi maior nos grupos treinados quando comparados aos grupos sedentários. O TF normalizou a pressão arterial (PA) média dos grupos OT e OPT quando comparado aos grupos OS e OPS (OT: 113 ± 2 e OPT: 114 ±1 vs. OS: 122±1 e OPS: 121±2 mmHg). A FC foi reduzida somente no grupo OT quando comparado aos grupos OS e OPS. A resposta taquicárdica a aumentos de PA, reduzida no grupo OS, foi aumentada pelo TF, associado ou não a TH. A resposta bradicárdica induzida por quedas da PA foi melhorada nos grupos treinados em relação aos seus pares sedentários. O tônus vagal cardíaco foi menor no grupo OS em relação aos demais grupos estudados (OS: 26±7 vs. CS: 48±5; OT: 52±6; OPT: 51±5 e OPS: 61±8 bpm). O tônus simpático cardíaco foi maior no grupo OS em relação ao grupo CS e menor no grupo OPT quando comparado ao grupo OS (OPT: 54±5 vs. OS: 77±5 bpm). A variância do intervalo de pulso (IP) aumentou no grupo OT e OPT em relação aos grupos sedentários (OT: 92,4±9,36 e OPT: 81,1±6,58 vs. CS: 44,5±5,70; OS: 60,0±6,34; OPS: 49,5±6,59 ms2). O balanço simpato/vagal cardíaco (BF/AF) foi maior nos grupos OS, OPS e OPT em relação ao grupo CS, e foi menor no grupo OT quando comparado aos demais grupos ooforectomizados (OT: 0,29±0,03 vs. OS: 0,52±0,04; OPS: 0,51±0,04; OPT: 0,52±0,04). O grupo OS apresentou maior variância (VAR-PAS) e banda de baixa freqüência da PA sistólica (BF-PAS). Tais variáveis foram reduzidas nos grupos OT, OPS e OPT em relação ao grupo OS (VAR-PAS-OT: 20,0±1,6; OPS: 14,0±1,7; OPT: 17,1±1,5 vs. OS: 38,8±3,05 mmHg2 e BF-PAS-OT: 5,76±0,58; OPS: 5,10±0,91; OPT: 5,70±0,45 vs. OS: 8,32±1,19 mmHg2). Com relação às avaliações de estresse oxidativo, a lipoperoxidação de membranas avaliada pela quimiluminescência (QL) e pelas substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS), foi maior no grupo OS (QL: coração e TBARS: gastrocnemius e rim) em relação ao grupo CS, de forma semelhante ao que se observou no balanço redox da glutationa (GSH/GSSG) no tecido cardíaco. Os grupos OT, OPS e OPT apresentaram valores menores comparados ao grupo OS na QL cardíaca (OT: 7.707 ± 543; OPS: 4656±323; OPT: 4550±499 vs. OS: 11.771 ± 1.479 cps/mg proteína), na QL (OT: 3101±370; OPS: 2951±174; OPT: 2419 vs. OS: 5327±577 cps/mg proteína) e no TBARS do tecido renal (OT: 1,27±0,26; OPS: 1,18±0,03; OPT: 1,11±0,07 vs. OS: 1,51±0,08 umol/mg proteína) e no no TBARS do gastrocnemius (OT: 2,23±0,39; OPS: 0,92±0,14 ; OPT: 0,88±0,21 vs OS: 5,64±0,74 umol/mg proteína). O balanço redox (GSH/GSSG) no tecido cardíaco foi maior nos grupos OT, OPS e OPT em relação ao grupo OS (OT: 11,40±1,17; OPS: 14,85±2,18; OPT: 16,20±1,76 vs. OS: 4,59±0,82umol/g tecido). A concentração de catalase (CAT) foi menor no grupo OS em relação ao grupo CS no tecido cardíaco e renal, e alteração similar foi observada na atividade da glutationa peroxidase (GPx) nos tecidos renal e muscular. A CAT cardíaca, renal e muscular, a superóxido dismutase (SOD) muscular e a GPx cardíaca e renal foram maiores no grupo OT em relação ao grupo OS. Os grupos OPS e OPT apresentaram CAT renal, GPx cardíaca e renal aumentadas em comparação ao grupo OS. Porém observou-se valores reduzidos de CAT cardíaca e muscular, SOD cardíaca e muscular e GPx muscular nos grupos OPS e OPT em relação ao grupo OT. O razão nitritos/nitratos plasmática foi menor nos grupos OS e OPS em relação ao CS e o treinamento físico (grupos OT e OPT) normalizou tal redução. Em conjunto, os achados do presente estudo evidenciam que a terapia estrogênica subcutânea reverteu algumas disfunções hemodinâmicas, autonômicas e no perfil oxidativo observado em ratas submetidas à privação dos hormônios ovarianos, sem induzir qualquer prejuízo adicional nos parâmetros avaliados. No entanto, a associação desta TH ao treinamento físico promoveu benefícios adicionais que podem ter um importante impacto em termos de manejo de risco cardiovascular.

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