Resumo

Os diferentes graus de alterações na função ventricular, nos mecanismos moleculares e hemodinâmicos, bem como os desarranjos neuro-humorais estão, por vezes, associados às altas taxas de mortalidade em pacientes após o infarto do miocárdio (IM). Os benefícios cardiovasculares e autonômicos já bem descritos do exercício físico têm levado os investigadores a sugerirem o treinamento físico (TF) como uma conduta não farmacológica importante no tratamento da doença arterial coronariana e do IM. No entanto, os efeitos da cessação do TF na função ventricular e morfometria cardíaca e na modulação autonômica após o IM permanecem pouco estudados. Nesse sentido, objetivo do presente estudo foi avaliar o impacto de 1 mês de destreinamento (DT) na função e morfometria cardíacas, na modulação autonômica e sensibilidade barorreflexa, bem como na mortalidade de ratos infartados submetidos a 3 meses de TF aeróbico. Para isso ratos Wistar machos foram divididos em: controle (C), infartado (IS), infartado treinado (IT), infartado sedentário +1 mês (IS-1) e infartado destreinado (ID-1). Após 1 semana de IM, os grupos IT e ID-1 foram submetidos a 3 meses de TF aeróbico (60min/dia, 55-75% do VO2máx). Após o TF, o grupo ID-1 permaneceu por mais 1 mês em DT. Ao final do protocolo de TF e/ou DT, os grupos foram submetidos às avaliações ecocardiográficas e ao registro direto de pressão arterial. A área de IM, semelhante entre os grupos na avaliação inicial (~41±2%), foi reduzida pelo TF e mantida após o DT (IS: 42±4; IT: 30±1; IS-1 43±3 e ID-1: 30±1%). O VO2máx, reduzido nos grupos IM, aumentou no grupo IT em relação ao C, IS, e ID-1. Apesar da redução, o grupo ID-1 permaneceu com o VO2máx mais elevado que o grupo IS-1. A fração de ejeção estava reduzida nos grupos experimentais, ao final do estudo, o TF melhorou esse parâmetro no grupo IT, permanecendo semelhante após o DT (C:71±1%, IS: 41±1%, IT: 60±2,1%, IS-1: 37±3% e ID-1: 61±2%). No entanto, A relação E/A, que estava aumentada após o IM, foi normalizada pelo TF e permaneceu assim após o DT. O TF também normalizou a função barorreflexa (avaliada pelas respostas taquicárdica e bradicárdica), benefício este que permaneceu após o período de DT. A variância do intervalo de pulso (IP), bem como as bandas de baixa e alta frequência do IP, que estavam prejudicadas no grupo IS (58,5±10,1; 1,5±0,3 e 6,6±0,7 ms2) e IS-1 (61,2±6,2; 1,2±0,4 e 6,0±0,8 ms2) em relação ao C (100,7±13,1; 3,9±0,5 e 13,9±0,9 ms2), foram normalizadas pelo TF (IT: 128,5±21; 4,5±1,2 e 10,6±1,2 ms2). Vale ressaltar que esses benefícios foram mantidos após o período de DT (ID-1: 127,1±5,2; 4,4±0,6 e 10,9±0,9 ms2). Os dados do presente estudo sugerem que o TF foi capaz de reduzir a área de infarto, melhorar a morfometria e função ventricular, bem como induzir alterações positivas na função autonômica de ratos infartados. Além disso, um mês de destreino não foi suficiente para reverter os ajustes advindos do treinamento. Em conjunto, esses achados sugerem que o treinamento físico não é apenas uma ferramenta eficaz no manejo das alterações cardiovasculares, hemodinâmicas e autonômicas provenientes do infarto do miocárdio, mas também na permanência dos benefícios pelo período de um mês, elevando a taxa de sobrevida desses animais mesmo após a interrupção completa do treinamento físico aeróbio.

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