Resumo
O objetivo geral do estudo foi determinar o efeito agudo e de curto prazo de um programa de imaginação sobre o controle postural de indivíduos acometidos por Acidente Vascular Cerebral (AVC). Participaram do presente estudo sete sujeitos, de ambos os sexos, com idade média de 51,29 ± 14,38 anos, sendo que cinco sofreram AVC do tipo isquêmico e quatro apresentavam hemiparesia esquerda. Antes de iniciar o período experimental os participantes foram submetidos a duas avaliações controle do controle postural, sendo cada uma composta de duas medidas com intervalo de 15 minutos entre elas. Em seguida os participantes realizaram o pré-teste: (1) avaliação da capacidade de imaginação por meio do Questionário de Imaginação Visual e Cinestésica, Versão Reduzida; (2) avaliação do controle postural na plataforma de força, similarmente às avaliações do período controle; (3) avaliação do medo de queda por meio da Escala Internacional de Eficácia de Quedas. Sendo assim, 24 a 48 horas depois do pré-teste, os sujeitos iniciaram o período experimental, que foi composto de 10 sessões (3 vezes por semana) dividas em duas etapas: (1) pré-condicionamento, composto por quatro sessões que visaram melhorar a capacidade de imaginação dos sujeitos e (2) período de prática específica da imaginação, composto de seis sessões. Em cada sessão realizada no período de prática específica da imaginação, os indivíduos foram submetidos a duas avaliações do controle postural, sendo que a primeira era realizada minutos antes do início da imaginação, e a segunda era realizada imediatamente após o término da sessão. Após 24 a 48 horas do término das 10 sessões, os participantes foram submetidos ao pós-teste da capacidade de imaginação, do controle postural e do medo de queda similarmente ao préteste. Uma semana após, os sujeitos realizaram novamente as avaliações realizadas no préteste e pós-teste para verificar a retenção. Em todas as medidas do controle postural, foram consideradas três condições: em pé, com pés unidos e olhos abertos (OA); em pé, com pés unidos e olhos vendados (OF); em pé, com olhos abertos sobre espuma (ESP). As variáveis analisadas em cada condição foram: amplitude do deslocamento do centro de pressão (CP) no sentido médio-lateral (desloc_ml) e ântero-posterior (desloc_ap), valor médio quadrático da componente de velocidade no sentido médio-lateral (vrms_ml) e ântero-posterior (vrms_ap), área do CP (área) e frequência média da oscilação do CP na direção médio-lateral (fmean_ml) e ântero-posterior (fmean_ap). Os resultados demonstraram que após o período experimental, os indivíduos apresentaram melhora na capacidade de imaginação somente para o domínio cinestésico quando as tarefas eram imaginadas com o lado não afetado pelo AVC (p=0,03). Além disso, não foi possível identificar o efeito agudo do programa de intervenção sobre o controle postural dos participantes devido a ausência de um padrão típico de variação, nos valores das variáveis estabilométricas, em medidas realizadas num mesmo dia durante o período controle e o pré-teste. Por outro lado, encontraram-se evidências de que, em curto prazo, o programa de imaginação favoreceu a manutenção do equilíbrio na postura estática de indivíduos pós-AVC devido aos menores valores encontrados no pós-teste em relação ao préteste nas variáveis desloc_ap (p=0,01) na condição ESP e, vrms_ap (p=0,01 ) e vrms_ml (p=0,01 ) na condição OF. Constatou-se, também, que após o período experimental realizado, houve a diminuição do medo de queda dos sujeitos, relacionado com a atividade de subir e descer escadas (p=0,04). Esses resultados sugerem que a imaginação pode ter fortalecido as condições neurais dos sujeitos, auxiliado na programação e planejamento motor, no direcionamento da atenção para pontos importantes da tarefa, influenciando e modificando os esquemas motores, além de poder ter estimulado a neuroplasticidade e contribuído para a melhora da autoconfiança dos indivíduos em relação ao equilíbrio.