Resumo
Esta pesquisa parte da hipótese de que o crescimento de programas e projetos socioeducativos que utilizam a arte como ferramenta educacional instaura ambivalências no campo da dança, de seu ensino e nas condições de trabalho em que os artistas e educadores desta área se inserem. Questões que acarretam deslocamentos de sentidos com relação às concepções sobre a interface arte e educação. A isto soma-se o reconhecimento ou não destes profissionais como trabalhadores nessa esfera em que prevalece a não continuidade dos processos artísticos e educativos pautados por contratos temporários e parciais. Para entender melhor estas questões, o estudo se localiza na cidade de São Paulo e a partir do fim da década de 1980, período de significativas mudanças econômicas, sociais, educacionais e culturais do qual, no processo de redemocratização emerge uma crise discursiva que pode ser percebida na atualidade, entre os artistas e educadores de dança, a partir de conflitos e tensão identitários e conceituais sobre sua própria profissão. Configurou-se como pesquisa de caráter qualitativo em que se ressaltou a dialética e o processo autobiográfico, ao rememorar minhas próprias experiências, em simultaneidade com narrativas memorialísticas, advindas de entrevistas semi-estruturadas, de profissionais da dança que atuaram em ações socioeducativos e governamentais de São Paulo. Esta esfera revelou-se, prioritariamente, como lugar de passagem, entre tantos outros, que configuram as estratégias de obtenção de renda perpetuando um equilíbrio precário, próprio da profissão. As condições de trabalho neste contexto também desvelaram uma precariedade contraditória em que predominam sentimentos de desvalorização e desrespeito, muitas vezes, silenciados ou invisibilizados, pela valorização que cada profissional atribui aos pequenos, mas significativos, momentos artísticos na relação artista-educando. Neste sentido, a sonhada estabilidade não se refere necessariamente à financeira e sim ao reconhecimento como trabalhador da arte.