Resumo

Faz hoje cem anos que nasceu o Presidente Mário Soares. Tive o raro privilégio de o acompanhar nalgumas viagens ao Brasil, nas quais recebeu o título de Doutor Honoris Causa em várias universidades. Nessas andanças conheci, graças a ele, criaturas geniais, como o arquiteto Óscar Niemeyer e o embaixador José Aparecido de Oliveira, sonhador da criação da CPLP.

Com ele convivi e conversei nas cerimónias oficiais e em atos sociais e recreativos, que acresceram o elevado apreço pela sua postura cívica e existencial. Era cidadão universal, profundamente patriota e comprometido com a comunidade lusófona. Amava a vida e a simplicidade; nas palavras e atitudes não acolhia a jactância, a prosápia e potestade. O relacionamento e o trato com toda a gente fluíam de modo natural e afável. Apreciava a ciência, as artes, a literatura e a culinária; possuía o saber do sabor.

Na última fase da vida insurgiu-se vivamente contra a perversão da democracia e da política pelo neoliberalismo, pelo sistema financeiro e pelo mercado. E também alertou para o servilismo europeu face ao expansionismo norte-americano. Faz, pois, muita falta a sua voz nesta era trágica.
Mário Soares não foi um Deus; limitou-se a Ser Humano, com alto estalão e invulgar coragem.

PS: A foto foi tirada no convés de um barco, no meio do Rio Negro, em frente de Manaus, em 1997. Poucos minutos após a saída do cais, a casa das máquinas incendiou-se, o fogo foi prontamente dominado, mas a embarcação ficou parada debaixo de calor intenso. Contra a opinião dos seguranças, ele atirou-se à água e alguns dos presentes seguimo-lo naquele banho memorável.

 

07.12.2024
Jorge Bento

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