Resumo
O exercício físico é reconhecido como um hábito saudável que oferece benefícios físicos e psicológicos e ajuda a prevenir doenças. A adolescência é um período crítico para adquirir este hábito saudável. No entanto, o exercício pode ter algumas consequências menos saudáveis, tornando o praticante viciado em sua prática. É importante entender esse fenômeno, reconhecendo os fatores desencadeantes e possíveis consequências prejudiciais aos praticantes de exercício físico. A imagem corporal é um antecedente potencial do vício em exercício e poucos estudos tentaram entender essa relação a partir das emoções relacionadas ao corpo. Esta tese trata-se de uma pesquisa transversal, descritiva, apresentada em dois estudos. O primeiro estudo teve como objetivo traduzir e validar a Escala de Emoções Autoconscientes do Corpo e Aparência (BASES) para a língua portuguesa. Para tanto, 827 (55,1% meninos) adolescentes entre 13 e 17 anos foram recrutados em escolas de cidades do Estado de São Paulo e responderam a um questionário com os seguintes instrumentos: Informações Demográficas, Escala das Emoções Autoconscientes relacionadas ao corpo e à aparência (BASES), Escala de Ansiedade Físico Social, Escala de Afeto Positivo e Negativo e Escala de Autoestima. Os principais resultados revelaram 4 fatores de 15 itens em toda a estrutura de BASES invariantes para peso e status sexual, consistência interna adequada, boa estabilidade temporal e validade convergente dos escores BASES. Adolescentes com sobrepeso/obesidade apresentaram maior culpa (d = 0,53) e vergonha (d = 0,97) e menor orgulho autêntico (d = 0,48) e orgulho de arrogante (d = 0,59) quando comparados aos adolescentes com baixo peso/peso normal. Meninas com sobrepeso/obesidade apresentaram maior vergonha (d = 0,25) do que os meninos nessa mesma categoria. O segundo estudo teve como objetivo identificar o perfil emocional em relação às emoções autoconscientes relacionadas ao corpo e á aparência e examinar o vício em exercício entre esses perfis. Participaram 703 adolescentes (58,6% meninos), com idade entre 13 e 17 anos, provenientes de escolas de cidades do Estado de São Paulo, que responderam um questionário com os seguintes instrumentos: Informações Demográficas com Frequência e Intensidade de Exercício, Escala das Emoções Autoconscientes relacionadas ao corpo e à aparência (BASES) e Escala de Vício em Exercício. Os principais resultados revelaram que os meninos apresentaram níveis mais elevados de dependência de exercício global (p = 0,046), tolerância (p = 0,007) e sintomas de abstinência (p = 0,044). Índice de massa corporal, frequência e intensidade do exercício foram preditores positivos significativos de dependência ao exercício. Encontrou-se uma solução de 4 clusters: orgulhoso, autoconsciência balanceada baixa, autoconsciência balanceada moderadamente alta e vergonhoso-culpado. O grupo de autoconsciência balanceada baixa mostrou baixos escores de dependência ao exercício quando comparado ao grupo orgulhoso e ao grupo autoconsciência balanceada moderadamente alta. Diferenças significativas foram encontradas na saliência (p<0,001), conflito (p=0,015) e tolerância (p<0,001) entre os perfis. Conclui-se que a BASES é um instrumento psicometricamente seguro, confiável e válido que pode ser útil tanto para cientistas, pesquisas de base e resultados afetivos, cognitivos e comportamentais relacionados à saúde e derivados da experiência de tais emoções, como para profissionais que examinam a eficácia de intervenções na população de adolescentes brasileiros. Além disso, a análise de cluster pode servir como um suporte na compreensão do constructo teórico do vício em exercício baseado em emoções autoconscientes. O modelo de quatro agrupamentos pode ser relevante no contexto de intervenção para comportamento vicioso, uma vez que indivíduos com diferentes perfis emocionais podem se beneficiar de diferentes abordagens de intervenção