Resumo

Este trabalho é um recorte da pesquisa de mestrado, em andamento, que tem como tema central o Hip Hop e a Educação Física escolar, refletindo e investigando o contexto pedagógico desta cultura urbana, a partir de um referencial crítico libertador. O objetivo principal é apresentar e analisar uma proposta sobre a dança breaking a fim investigar as possibilidades pedagógicas no trabalho com esse tema com turmas de 6º ano. O breaking é uma das danças mais tradicionais da cultura Hip Hop, com elementos das ginásticas e das artes marciais, que surgiu a partir das batidas quebradas (‘breakbeats’) das músicas manipuladas pelos DJs, em festas do bairro Bronx, em Nova Iorque. Este trabalho apresenta-se como uma proposta de relato de experiência da professora-pesquisadora, por meio da escrita narrativa da própria prática e da metanarrativa em diálogo com vários(as) outros(as) professores(as) e pesquisadores(as). Para compor a proposta, as crianças foram incentivadas a trazer imagens que, na sua concepção, representavam a dança breaking e a partir delas foram materializadas as reflexões. No diálogo sobre as fotos retomamos a história do Hip Hop, o contexto de luta e resistência dos negros estadunidenses, emergindo a seguinte questão: ao observar as imagens, é possível compreender essa realidade histórica? As imagens revelavam que possíveis transformações ocorreram, gerando sentidos distintos. Um deles é a observação de que a dança breaking está presente em diversas partes do mundo, conquistando cada vez mais admiradores(as), no entanto, por outro lado, há a percepção de um esvaziamento histórico. O momento de vivência prática foi organizado a partir da fala de um aluno que questionou: “professora, quando você vai ensinar um passo pra gente?”. Pensando nesse ensino de movimentos, planejamos ensinar um tipo de Top rock e um de Footwork, dois passos característicos do breaking. Para fundamentar as movimentações apresentamos às crianças dois vídeos: o primeiro de uma batalha de breaking que está no filme Beat Street e o segundo de uma batalha da World Dance Sport Federation Breaking Championship 2019, este último para reforçar para as turmas os tipos de movimentos do breaking. Durante as vivências acabamos assumindo um lugar de destaque – da professora que executa os movimentos e as crianças imitam – o que gerou incômodo e suscitou a reflexão: ensinar ou não ensinar um passo de dança para as crianças? O diálogo com os(as) estudantes se faz potente, porém revela uma concepção de dança ligada ao(a) “professor(a) como modelo”, como aquele(a) que precisa saber realizar a dança. No entanto, acreditamos numa concepção que possibilita a exploração livre e que valoriza o gesto intencional, não se restringindo a padrões de movimento. Pensando nas danças dentro da cultura Hip Hop, a movimentação livre espontânea – criativa – é característica primária, o que permite romper com uma organização estética formal: descontextualizados da cultura, com todos(as) realizando o mesmo gesto, apenas como reprodução de movimentos. Sendo assim, o ensino de passos é possível, desde que estes possibilitem criar e explorar outros movimentos.

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