Resumo

Pobre Ensino a Distância (EAD), tudo é de longe!  Não oferece o contato pessoal com os professores, formando-se alunos sem vê-los. Ensino de segunda! Prêmio de consolação! Será que os alunos não percebem a precariedade desse ensino?

Mas se é assim, como explicar que a matrícula no EAD já ultrapassou a do presencial – que luta para não encolher?

Como é o mesmo ENADE para ambas as versões do ensino, é fácil comparar os resultados. E para a consternação de muitos, os resultados são equivalentes.

Belo mistério para ser decifrado.

Descobrimos as primeiras pistas na história. O presencial, com sua sala de aula tradicional, tem seu DNA engendrado nas universidades medievais, em cursos de Teologia, Filosofia e Direito. Era a elite aprendendo assuntos abstratos com a elite da elite. E desde sempre, a aula permanece puramente expositiva, mesmo que uma faculdade noturna não seja exatamente a Universidade de Bolonha, Paris ou Heidelberg.

O DNA do EAD não poderia ser mais diferente. Nasce plebeu e oportunista, aproveitando-se do que aparece. Expande-se, no século XIX, quando o selo de correio é criado. E segue testando todas as novidades.

Seu leitmotiv é a alta perda alunos, pois exige muito mais autodisciplina. Sendo assim, aprende a fazer tudo para reduzir a evasão. Já as universidades de elite, olimpicamente, se lixam para a perda de alunos. E as mais plebeias, servilmente as imitam. O resultado é que a metade dos alunos se vai - desnecessariamente.

A grande revolução pedagógica, ao fim do século XIX, é desdenhada pelas escolas, superiores ou não. Mas o EAD, sempre lutando para se impor, prestou atenção às ideias que brotavam. Privados dos professores ao vivo, tiveram que tornar seus materiais escritos mais atraentes. Em vez de um livro ameaçador, de 500 páginas, há um folhetinho reconfortante para cada aula. E como a aula escrita é o epicentro da sua pedagogia, é preciso gastar tempo tornando-as mais interessantes. E toma exercício! Nos assuntos mais aplicados, muita aplicação. Nos cursos de radiotécnica, populares no passado, muitas e muitas montagens com os materiais enviados. No plebeu EAD, o ensino acaba sendo mais ativo que no altaneiro presencial.

A Open University inova, estruturando bem mais os materiais de ensino. Ficam mais explícitos. É o passo a passo do que fazer, incluindo exercícios de aplicação bem pensados. É dito o que ler e onde ler. E também, há uma séria tentativa de contextualizar os assuntos.

Seja no EAD ou no presencial, há os excelentes e os muito ruins. Grosso modo, o presencial permanece pedagogicamente atrasado. E a diversidade dentro de cada grupo é maior do que entre os dois.

O EAD logo embarca nas soluções de base tecnológica, começando com o rádio. Seguem os cursos pela TV, com suas aulas de 15 minutos, seguidas de telessalas. Avidamente, adota também os computadores, a Internet, o YouTube, o streaming e tudo que vai aparecendo. Já o presencial empaca, diante do novo horizonte tecnológico. Apenas aceita apostilas, xerox e PowerPoints.

O presencial está atolado em um haraquiri pedagógico. Ou seja, a causa do problema está em um presencial pródigo no lado ruim e avaro no bom.

E o EAD contra-ataca. Para adultos, é uma alternativa imbatível. Após o trabalho, horas se esvaem em uma condução, chegando o aluno cansado na faculdade, para ouvir uma preleção chata e irrelevante. Isso é bem pior do que ficar em casa, de bermuda, ouvindo uma aula que pode ser até melhorzinha.  Aliás, aula de EAD pode ser auditada.

Quem necessita o presencial são os jovens. Mas o seu grande trunfo é jogado fora. Praticamente, não há perguntas, diálogos, explicações ad hoc ou exercícios interativos. A poucos metros, o professor está tão distante quanto os que estão no EAD, a milhares de quilômetros.

Nas boas universidades americanas, os professores sentam-se para almoçar com os alunos, convidam para festinhas ou jogar tênis. Interagem deliberadamente com eles, entendendo que é parte da sua educação. Esses contatos pessoais são fundamentais. Em algumas instituições, foi até abolida a sala dos professores, para maximizar a sua interação com os alunos.

Na maioria das nossas, não há espaços agradáveis para os alunos conviverem e se conhecerem melhor. O celebrado H. D. Thoreau (Walden) chegou a dizer que Harvard, onde estudou, era apenas um lugar para se fazer amigos. Hoje falaria de networking. Exagero à parte, tinha razão.

Para conquistar uma presença “de verdade”, a arquitetura precisa contribuir. Lembremo-nos, a Biblioteca de Alexandria era um local de interação intelectual, não um depósito de livros. A biblioteca de uma universidade do Texas despachou todos os livros para um depósito, liberando espaços para os alunos. Inspirados por instituições americanas, o Insper e a ESPM expandem seus espaços de convivência. E, quem sabe, beleza arquitetônica ajuda?

Será por tais razões que as instituições de primeira linha não temem o EAD?

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