Resumo
O século XVII foi marcado para o Império Ultramarino Português como um período turbulento, não só por conta dos embates realizados para retomada da coroa das mãos dos hispânicos, como também por fazer com que sua soberania e poder se mantivesse intacto nas conquistas americanas. Ameaçando este objetivo, inúmeros movimentos sociais eclodiram nos trópicos, no entanto, o alvo dos amotinados não foi o monarca e sim os seus representantes administrativos. Dentro desta perspectiva que se enquadra a Revolta da Cachaça, ocorrida no Rio de Janeiro entre 1660-1661, e a Revolta de Beckman, que assolou o Estado do Maranhão e Grão-Pará nos anos de 1684-1685, fruto das condições adversas e problemáticas das regiões coloniais incompatíveis com a prática política exercida pelos funcionários da coroa. Desta feita, a presente tese de doutorado tem por intenção realizar um estudo comparativo entre esses dois movimentos, buscando entender o campo de tensões que os fomentaram e as alterações que as regiões sofreram após o término do movimento. Levando em consideração as semelhantes motivações – insatisfação com governadores ou grupos locais, a aplicação de companhias comerciais e a procura de um equilíbrio na distribuição dos benefícios – visamos compreender como duas regiões tão diferentes pôde desenvolver formas de resistência tão iguais, com estratégias distintas mais que culminaram no atendimento dos interesses do monarca lusitano. Além disso, tem-se aqui o objetivo de desvendar o papel destas conquistas na tessitura política e econômica da América portuguesa, sobretudo tendo como perspectiva o projeto açucareiro proposto para aquelas bandas nesta centúria.