Resumo

Entre o céu e o inferno: a governamentalização do brincar problematiza genealogicamente os regimes de verdade construídos com a intenção de govermentalizar o brincar da criança a partir dos dispositivos presentes em manuais e livros de Higiene e de Puericultura publicados no Brasil entre 1868 e 2009. A tese a partir da qual se desenvolve este trabalho é que a partir de meados do século XIX emerge o brincar como sendo uma prática a ser governamentalizada por ter uma função tática e estratégica em relação ao desenvolvimento e constituição da subjetividade da criança. Esta governamentalização constrói regimes de verdade, estratégias biopolíticas e práticas de cuidado si. Porque conhecendo o brincar é que se conhece a criança, também ao adulto, em suma, uma forma de pensar a condição humana. Partindo da idéia de um sujeito que se constitui entre as técnicas de dominação e tecnologias de si, agonisticamente condenado a viver entre o caos e a ordem, em uma luta na qual nem se ganha nem se perde, simplesmente se combate. Depois de analisar os documentos, a partir da metodologia descrita por Foucault como genealogia, estamos em condições de reafirmar que o brincar é uma das operações com as quais um sujeito cria as condições de autogoverno conforme as práticas de cultura de si. Também que resulta difícil imaginar uma fórmula mais próxima a da Parrhesia que o próprio brincar. Porque não há fazer de conta que se brinca, ou se é verdadeiro, francamente verdadeiro no ato de brincar ou isso não é brincar. No intento de dominar e governar os corpos e as mentes das crianças, foram construídos modelos higiênicos que pela via eugênica, jurídica, educacional, se encarregaram de destituir de 8 diversas formas, a autonomia e o direito da família para escolher o tipo e a intensidade do vínculo pai mãe filho. Foi assim que descrevemos a existência de um dispositivo psicomédico- pedagógico para dar conta dos saberes necessários a serem construídos em relação à criança e os métodos de criação-educação como instrumento de governo.
 

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