Resumo

No decorrer do século XIX e início do XX o circo foi um dos pioneiros e principais espaços de difusão de imagens e informações sobre as práticas ginásticas, mesmo que questionado e combatido por parte daqueles que defendiam uma ideia "científica" de educação do corpo ligada aos intuitos de controle, disciplina e desenvolvimento de hábitos higiênicos (SOARES, 2005; MELO e PERES, 2014). Nesse sentido, pretendemos por meio desta pesquisa, ainda em desenvolvimento, tratar dos entrelaçamentos históricos entre as artes circenses e a ginástica no Brasil no início do XX, tendo como objetivo evidenciar os saberes dos circenses no que tange o corpo, a produção do espetáculo e os processos de formação no âmbito do próprio circo, destacando o quanto os circenses sempre foram detentores de múltiplos conhecimentos e práticas ligados ao corpo decorrentes da elaboração e fazer de sua própria arte (SILVA, 2007; 2009). Assim, em busca de compreendermos como e por quais razões circo e ginástica estruturaram-se como áreas que se misturaram e se confrontaram, analisamos a intensa atuação do atleta José Floriano Peixoto como sportsman, professor de ginástica, artista e diretor circense no início do século XX. Zeca Floriano, como era conhecido, nasceu em 1887 e era filho do Marechal Floriano Peixoto, presidente do Brasil de 1891 a 1894. No início do século XX Zeca foi um dos atletas mais populares e referenciados no período, sendo considerado um dos primeiros homens no Rio de Janeiro a exibir um modelo de corpo forte e musculoso numa época em que o tipo físico valorizado era justamente o oposto (MELO, 2007). Floriano, além de professor de ginástica em clubes e centros esportivos públicos e privados, foi praticante medalhista em cerca de dezoito modalidades esportivas como boxe, luta romana, remo, halterofilismo, natação, atletismo e ginástica, e fundou diversos clubes no Rio de Janeiro, a exemplo do Clube Esportivo S. Cristóvão (1905), Esporte Clube José Floriano (1907) e Escola Atlética Modelo José Floriano Peixoto (1915).