Entre Rezas, Lágrimas, Suor, Menstruação e Chulé: o Futebol Feminino em Foco
Por Mariane da Silva Pisani (Autor).
Em Cadernos de Campo v. 24, n 24, 2015. Da página 338 a 347
Resumo
No ano de 2015, no mês de Julho, 24 países participarão da sétima Copa do Mundo de Futebol Feminino, sediada no Canadá. No Brasil, desde de Janeiro do mesmo ano, a Seleção Feminina se prepara para a competição buscando a conquista do título ainda inédito no país. Infelizmente, pouco se sabe e se fala sobre o futebol feminino brasileiro.
As mulheres, a partir do ano de 1920, quando apareciam nas crônicas esportivas e colunas sociais eram retratadas como meras espectadoras que traziam beleza e charme para as arquibancadas. No ano de 1921, os jornais do país noticiaram – não sem algum assombro - a primeira partida de futebol disputada por mulheres. À época elas foram chamadas de audaciosas e intrépidas, e a partida, por sua vez, foi motivo de chacota e desconfiança do grande público brasileiro. No ano de 1941, sob o pretexto de preservar a saúde reprodutiva dessas mulheres, o Conselho Nacional de Desportos decreta que alguns esportes não seriam compatíveis com a natureza feminina. Acreditava-se que a prática do futebol colocaria em risco a integridade física das mulheres brasileiras: uma forte pancada no baixo ventre poderia torná-las inférteis, comprometendo a maternidade. Dessa forma, até 1979, as mulheres foram proibidas por lei de jogar bola no Brasil. No ano de 2001, a Federação Paulista de Futebol (FPF) estabeleceu que para uma atleta participar de campeonatos precisaria apresentar signos de feminilidade: cabelos compridos, corpo mais delicado e com curvas, uniformes mais curtos e justos. Na época algumas atletas alegaram que preferiam jogar com um uniforme intermediário - nem tão grande, mas também não tão justo -, contudo acabaram usando micro uniformes que expunham completamente seu corpos, afinal segundo elas: “era melhor jogar assim do que não jogar”. Ainda hoje, muitas são as reportagens e entrevistas realizadas com atletas da modalidade que evidenciam o charme e a beleza da jogadora brasileira em detrimento de sua competência profissional e qualidade técnica.
As fotos que trago são produtos do trabalho de campo da tese de Doutorado que realizo no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social na Universidade de São Paulo. O objetivo é mostrar um pouco do cotidiano dessas mulheres: Quem são elas e de onde vêm? Quais são seus sonhos e perspectivas? Elas conseguem fazer do futebol seu meio de vida? Dessa forma, a narrativa fotográfica é construída a partir do convívio mais intenso com uma equipe da capital. As fotos foram realizadas ao longo de noves meses (de novembro de 2013 a agosto de 2014) e mostram como é o um dia de jogo na vida jogadoras de futebol.