Resumo

Introdução: A força de preensão manual (FPM) é uma medida simples e barata para avaliar a função muscular dos membros superiores e apresenta associação com diferentes desfechos em saúde. Apenas um estudo brasileiro desenvolveu equações de predição da FPM para adultos. Entretanto, o estudo utilizou dinamômetro mecânico, o qual é menos preciso, e contou com uma amostra pequena. Além disso, não existem estudos que avaliaram a aplicabilidade de equações de predição da FPM prospectivamente.
Objetivos: Elaborar equações de predição da FPM de acordo com o nível de atividade física diária e avaliar a aplicabilidade dessas equações prospectivamente. Metodologia: Selecionamos 1042 indivíduos (395 homens, 38 ± 14 anos e 647 mulheres, 44 ± 15 anos) do Estudo Epidemiológico do Movimento Humano (EPIMOV). Tomamos três medidas de FPM da mão dominante na posição sentada, com braço ao longo do tronco, cotovelo fletido a 90º e antebraço na posição fundamental com a maior medida para análise. O nível de atividade física diária (NAFD) foi avaliado por acelerometria triaxial acima do quadril durante 4-7 dias consecutivos com pelo menos 12 h de monitoramento. Aqueles que realizaram menos de 2,5 h/semana de NAFD moderada a intensa foram considerados fisicamente inativos. Peso e estatura foram mensurados para cálculo do índice de massa corporal (IMC). Avaliamos o risco cardiovascular por meio do autorrelato de fatores clássicos tais como hipertensão arterial, diabetes mellito, dislipidemia, obesidade, tabagismo e inatividade física. Elaboramos uma série de regressões lineares multivariadas do tipo stepwise utilizando a FPM como desfecho. Na amostra total (n = 1042), ajustamos os modelos por idade, sexo, peso, estatura e fatores de risco cardiovasculares. Em uma sub-amostra de indivíduos saudáveis (n = 790), ajustamos os modelos sem os fatores de risco cardiovasculares. A aplicabilidade da melhor equação desenvolvida foi avaliada prospectivamente em uma amostra de 300 participantes que retornaram para reavaliação após aproximadamente 15 meses. Utilizamos o coeficiente de correlação intraclasse, o coeficiente de variação e o método gráfico de Bland and Altman para investigar a confiabilidade da melhor equação proposta. Resultados: Os participantes avaliados apresentaram valores de IMC representativos de sobrepeso (28,2 ± 6,01). Em relação aos fatores de risco cardiovasculares, 70,5% são inativos fisicamente, 82,7% hipertensos, 90,9 diabetes mellito, 75,1% dislipidemia, 67,5%, obesidade e 87,7% tabagismo. Após análise de regressão múltipla na amostra total, sexo, estatura, peso, idade, hipertensão arterial, diabetes mellito e dislipidemia foram selecionados como os principais preditores da FPM, explicando 62,7% da variabilidade total. Hipertensão arterial, diabetes mellito e dislipidemia explicaram apenas 3% 2% e 1% respectivamente da variabilidade total. Na amostra de indivíduos saudáveis, sexo, estatura, peso e idade explicaram 62,1% da variabilidade total da FPM. A confiabilidade da equação desenvolvida para indivíduos saudáveis apresentou aplicabilidade prospectiva limitada com coeficiente de correlação intraclasse de 0,80 (Intervalo de confiança de 95% 0,75 - 0,83), coeficiente de variação de 11,2% e diferença média de -1,6 kgf (-33,7 – 30,4). Conclusão: Sob nosso conhecimento, o presente estudo é o primeiro a apresentar equações de predição da FPM avaliada em dinamômetro hidráulico e em amostra suficiente. Podemos concluir que a FPM pode ser predita por sexo, estatura, peso e idade, com pouca influência adicional de fatores de risco cardiovasculares. Nossa equação pode ser útil para melhor interpretação da FPM no ambiente clínico. Contudo, o uso prospectivo da equação proposta deve ser realizado com cautela tendo em vista a confiabilidade e limites de concordância limitados na amostra estudada.

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