Resumo
O corpo humano é mantido em equilíbrio por um processo que envolve três tipos de informações, visual, vestibular e proprioceptivo. A partir do momento em que se perde um dos três sistemas, no caso a visão, há uma perda funcional dos mecanismos envolvidos no equilíbrio. Neste contexto, indivíduos cegos apresentariam maior deslocamento do centro de pressão (COP) que indivíduos videntes. Desta forma, esse estudo tem como objetivo caracterizar a postura e o equilíbrio quase - estático e funcional de sujeitos com e sem deficiência visual. Foram avaliados 9 indivíduos cegos com média de idade de 29 ± 6 anos e 14 indivíduos videntes com média de idade de 27 ± 4 anos. Os sujeitos foram submetidos à avaliação do equilíbrio por meio da plataforma de força construída pelo Laboratório de Instrumentação da Universidade do Estado de Santa Catarina, Escala de Equilíbrio de Berg (EEB), Escala Internacional de Eficácia de Quedas (EIEQ) e avaliação postural através do software SAPO. Os dados foram tratados no SPSS versão 17.0 por meio do Teste de Shapiro Wilk, Teste “t” para amostra independente e Teste U de Mann-Whitney, com nível de significância fixado em p<0,05. Os resultados evidenciaram não haver diferença significativa no escore da EEB entre indivíduos cegos (50,6±3,21) e videntes (56 pontos). Quanto a EIEQ, novamente não houve diferença significativa entre os escores obtidos pelos indivíduos cegos (25,7 ± 8,66) e videntes (20,1 ± 5,1 pontos). No equilíbrio quase-estático obtido pela plataforma de força, os dados mostraram diferença significativa no deslocamento do centro de pressão no sentido ântero-posterior (COP AP) na situação de olhos abertos entre os sujeitos cegos (1,36±1,7mm) e videntes (1,19±1,7mm). Os resultados obtidos na análise da postura evidenciaram não haver diferença significativa nas variáveis angulares com exceção do ângulo frontal do membro inferior direito (vista anterior), alinhamento horizontal da cabeça e alinhamento vertical do corpo (vista lateral direita), alinhamento vertical da cabeça, alinhamento vertical do tronco e alinhamento do tornozelo na vista lateral esquerda. Os resultados evidenciaram equilíbrio funcional similar entre cegos e videntes, no entanto, as escalas utilizadas não são específicas para cegos, ficando evidente, desta forma, a necessidade de uma adaptação para esta população principalmente na EEB. Em relação ao equilíbrio quase-estático os cegos mostraram maior oscilação do COP AP na situação de olhos abertos. Este fato pode ser devido às estratégias corporais adotadas por essa população devido a ausência visual a fim de manter o equilíbrio corporal. Finalizando, as características posturais dos indivíduos cegos evidenciaram uma postura caracterizada por anteriorização da cabeça, protrusão de ombro, inclinação posterior de tronco e joelhos valgos.