Resumo
O Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é o transtorno do neurodesenvolvimento mais comum na infância, está baseado na tríade de sintomas da desatenção, da hiperatividade e da impulsividade que interferem frequente e persistentemente no funcionamento e desenvolvimento levando a prejuízos nas atividades sociais, acadêmicas e profissionais, sendo observados ao longo da vida. A literatura também aponta que pessoas com o TDAH podem apresentar dificuldades nas interações sociais, que são agravadas pela coocorrência do transtorno de oposição desafiante (TOD). O objetivo deste estudo foi investigar o perfil socioemocional de escolares do ensino fundamental II com indicativos do transtorno do déficit de atenção/hiperatividade em dois contextos: nas aulas de educação física e no âmbito familiar. Método: um total de 950 escolares, com idades entre 10 e 15 anos, participou do processo de triagem para verificação de elegibilidade. Após 3 chamadas para participação, retornaram 328 questionários de pais e 57 de professores de educação física. O instrumento do Swanson, Nolan and Pelham Questionnaire (SNAP-IV) foi utilizado para identificar os indicativos do TDAH e classificar o TOD. Para avaliação dos aspectos socioemocionais foi utilizado o Strengths and Difficulties Questionnaire (SDQ). Primeiro foi feita a análise descritiva marginal de cada uma das variáveis, depois foi calculado o Coeficiente de Concordância Kappa de Cohen para analisar a existência de concordância entre pais e professores referente à classificação do SNAP-IV, do SDQ, do Pro-social e do TOD e, por fim, realizado um estudo das apresentações do SNAP-IV com as variáveis do estudo. Resultados: a prevalência do TDAH foi de 78.6% (masculino) e 21.4% (feminino). As meninas apresentaram mais indicativos da apresentação predominantemente desatenta e os meninos apresentaram mais indicativos da apresentação combinada. A prevalência do TOD no âmbito familiar foi de 35.7% e de 7.1% na escola, a média de idade foi de 12 anos e o índice de massa corporal (IMC) foi de 18.8kg/m2. As porcentagens de concordâncias entre pais e professores foram 57.1% no SNAP-IV (Kappa= 0.26), 64.3% no SDQ (Kappa= 0.44), 85.7% no Pro-social (Kappa= 0.45) e a discordância de 57.1% para o TOD (Kappa= -014). Há concordância, embora baixa, nas classificações das subescalas do SDQ, na subescala do Pro-social e nas apresentações do SNAP-IV, enquanto há discordância na classificação do TOD. Conclusão: O perfil socioemocional medido pela subescala pró-social dos (as) escolares foi classificado como normal tanto no ambiente familiar quanto no escolar, permitindo inferir que os escolares possuem empatia e solidariedade, entretanto o perfil socioemocional medido pelas dificuldades totais foi classificado como anormal nos dois contextos, sinalizando que é preciso desenvolver as habilidades sociais específicas. O TOD foi mais relatado pelos pais/responsáveis, talvez isso se deva ao fato de que na escola as regras e os combinados estão mais explicitados e as sanções mais esclarecidas. Além disso, os (as) alunos (as) com indicativos do TDAH possuem baixo risco para a saúde em relação ao desenvolvimento corporal medido pelo IMC. Como limitação do nosso estudo podemos citar o pequeno tamanho da amostra, então sugerimos que futuros estudos incluam um número maior de participantes.