Resumo

O fracasso da Seleção Brasileira de futebol na Copa do Mundo de 2006 reanimou o debate da representatividade que uma seleção pode ou não assumir em relação às características culturais e futebolísticas da nação a qual representa. O sentimento coletivo de derrota diante do desempenho não esperado nos campos alemães compôs um cenário de implosão de uma identidade para a Seleção Brasileira. Essa desconstrução de um modelo que se mostrou insatisfatório tem sua amplitude para além da desclassificação nas quartas-de-final frente à Seleção Francesa gerando, adiante, uma renovação destacada pela mudança no comando técnico, pela busca de novos jogadores, pela construção de outras identidades. Partindo do princípio de que esta identidade é resultado de um processo discursivo nunca completado (HALL, 2000; LACLAU, 1996), mas que responde a uma emergência histórica, este estudo visa analisar a forma como se estabeleceu esse processo mapeando e analisando os agenciamentos que foram e estão sendo postos em prática e como a imprensa participou e está participando da reconstrução de uma nova imagem, de um novo sentimento coletivo, enfim, de outras identidades para a Seleção Brasileira. A opção pelo campo midiático (BOURDIEU, 2002; CHARAUDEAU 2006) como referência empírica parte da relevância deste diante os acontecimentos esportivos atuais no que diz respeito à produção de sentidos múltiplos que acabam estabelecendo um diálogo entre prática discursiva e constituição de identidades. Um diálogo que é resultado de um constante estado de lutas entre as formas que essa identidade é visibilizada pelos canais de comunicação. Para desenvolver o estudo foi utilizada, prioritariamente, a metodologia de análise do discurso a partir da perspectiva apontada por Michel Foucault (1998) que, combinada com alguns elementos cartográficos (ROLNIK, 2006), possibilitou o encontro dos diferentes discursos que, dentro de uma regularidade, proliferaram sobre esses acontecimentos. Ao selecionar os textos para a análise que realizamos pode-se perceber que muito mais do que uma homogeneização ou, um meta discurso, o campo midiático produz efeitos de verdades a partir de uma multiplicidade discursiva que procura definir a realidade. Esta multiplicidade também atende a uma demanda discursiva inacabada, algo que está em constante reconfiguração a partir de enunciados produzidos e incorporados pelo campo midiático, provocando alterações, reafirmações, começos e desaparecimentos de determinados elementos que constituem as identidades.

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