Resumo

Os esportes são uma das principais formas de lazer de considerável parcela da população, seja como praticante e/ou como espectador de alguma manifestação esportiva. Tanto quanto outros campos das políticas sociais, os esportes assumem uma tripla condição de ramo de valorização do capital, estratégia das classes dominantes de obtenção do consenso dos trabalhadores e objeto de reivindicação por parte da classe trabalhadora da vivência esportiva, tanto do espetáculo esportivo, como de condições objetivas de praticar esportes. E essa tese privilegia a relação direta entre esportes e luta de classes na sociedade capitalista.
A concepção e a atuação político-pedagógica dos organismos internacionais serão elementos de grande relevo nessa tese, focando na atuação do conjunto do Sistema das Nações Unidas (ONU) com vistas a apresentar um projeto da burguesia mundial para os esportes. É possível afirmar que na década final do século XX essa ação se tornou mais orgânica e qualificada. Esta tese irá dedicar especial atenção a desnudar de que forma o Sistema ONU aborda os esportes em sua atuação política e pedagógica, mediante a ação de suas agências, fundos de financiamento e escritórios temáticos. Mais especificamente, os movimentos e indicações no âmbito do Sistema ONU, com vistas a preparar um papel político para o campo das políticas de esportes em consonância com as demandas do projeto histórico burguês para o século XXI.
Outro eixo de análise dessa tese será o desdobramento dessas concepções dominantes acerca das políticas de esportes no Brasil de hoje, com foco no projeto dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro. Tais ações incorporam elementos centrais do projeto capitalista neoliberal da Terceira Via.
Essa tese tem por objetivos, de modo mais abrangente identificar o papel dos esportes na nova fase de dominação burguesa, implicando na busca das possíveis contribuições das políticas de esportes no apassivamento das lutas populares nesse contexto de agudização das contradições decorrentes da atual lógica de acumulação capitalista. Isso terá como foco a movimentação dos Organismos Internacionais, sobretudo no âmbito do Sistema ONU, em torno do tema dos esportes, de forma mais intensa, a partir do final dos anos 1990.
Para responder aos desafios teórico-metodológicos dessa empreitada, a referência principal desse estudo será o marxismo de Antonio Gramsci, dialogando com outras vertentes dessa tradição. Menos do que um compêndio de citações aproximadas com contextos muito diversos dos quais foram formuladas, a inspiração gramsciana estará presente na busca pela compreensão das estratégias de dominação burguesa para obtenção e manutenção do consenso ativo dos subordinados ao projeto do bloco no poder.
A menção a autores filiados à tradição marxista coloca o desafio de compreender os mecanismos que têm permitido a obtenção e manutenção do consenso em torno do atual projeto político burguês. Talvez a tarefa histórica mais urgente seja parecida com o que Gramsci se propôs nos cárceres do fascismo: pensar as razões e equívocos das concepções de mundo e forças políticas críticas ao capitalismo que não conseguem obter adesões significativas. Ou então pensar e compreender de que forma o projeto capitalista tem conseguido se manter hegemônico, malgrado sua clara incapacidade de propiciar condições dignas de vida a um número significativo da população mundial.

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