Resumo

Neste estudo, me propus a discutir o associativismo esportivo de mulheres em esportes que são ditos masculinos. Para tanto, optei em fazer uma investigação etnográfica em um time de futsal feminino da cidade de Porto Alegre. Realizei 51 idas a campo (treinos, jogos oficiais e atividades extraquadra) e dezessete entrevistas. A equipe investigada era formada por dezessete jogadoras, um técnico e sete pessoas que a acompanham sistematicamente. As praticantes, com idades entre dezesseis a 41 anos, tinham características sócio-econômicas heterogêneas. Como o associativismo é um conceito que remete à sociação de pessoas para determinado fim, surgiu-me um questionamento: como e porque mulheres se associam para praticar um esporte socialmente considerado masculino? Constatei, então, a partir das observações feitas, que três aspectos eram os principais para que o associativismo estudado fosse mantido, a saber: o esporte, a homossexualidade e a amizade. O esporte, nesse time, apresentava características muitas vezes vistas como opostas, mas que nele se tornaram complementares: brincadeira e seriedade; lazer e trabalho, utilidade lúdica e utilidade pública, valor de uso e valor de troca. Em relação à categoria “homossexualidade”, identifiquei três aspectos importantes: o gerenciamento da visibilidade da opção homossexual por parte das pesquisadas dentro e fora do universo do futsal; um tipo de feminilidade sendo objeto de distinção entre a equipe investigada e outras equipes da grande Porto Alegre; o futsal como um espaço de lazer para as mulheres homossexuais em questão. Na discussão da categoria amizade, realizei uma análise que mostrou aproximações e distanciamentos das informações obtidas nesta pesquisa com estudos do campo da filosofia, com foco nesse tema. Verifiquei, ainda, que as relações de amizade nesse time eram duradouras, e, em certa medida, proporcionam uma ascese aos indivíduos. Para finalizar, destaquei que a principal contribuição trazida por este estudo foi a riqueza das informações empíricas – obtidas através da etnografia – que tiveram a capacidade não só de surpreender como, também, de desestabilizar saberes, muitas vezes, nem questionados.

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