Esporte Paralímpico: Inclusão Difícil, Incorporação Tecnológica, Corpos Competitivos
Por Alexandre Fernandez Vaz (Autor).
Em XVI Congresso de Ciências do Desporto e Educação Física dos Países de Língua Portuguesa
Resumo
A ideia de potência corporal parece ser uma constante nos tempos contemporâneos, materializando-se em mais saúde, mais beleza, mais desempenho, em geral. O esporte é uma de suas marcas privilegiadas. Se nem sempre é fácil pensar em corpos normativos no esporte olímpico, dada a diversidade que vemos desfilar nos Jogos em distintas modalidades, a pergunta se amplia quando nos debruçamos sobre o paralimpismo. Não são muitos os estudos sobre estética do esporte que se ocupam dos corpos vistos como “anormais”. Neste trabalho, dedicamo-nos ao tema buscando nos corpos paralímpicos a possibilidade de expressões estéticas. Nosso diálogo central é com a noção de uma estética da presença (Gumbrecht), de onde operamos, em especial, com o conceito de fascínios. Para isso destacamos dois dos sete fascínios apontados por Gumbrecht, que nos parecem os mais importantes para o objeto em tela. O primeiro seria a beleza presente nos corpos dos paratletas, que realizam feitos pouco comuns se comparados aos não paratletas – mas deficientes – e que, moldados pelo treinamento, tornam-se capazes de performances graciosas. No segundo, analisamos o esporte paralímpico tomando em conta, essencialmente, as diferenças técnicas e de incorporação tecnológica (próteses, cadeiras de rodas etc.) que ele comporta, diferenciando-se da vida deficiente cotidiana e proporcionando, nas palavras Gumbrecht, segundo as interpretamos, a fusão de elementos não humanos com o corpo atlético. Como situações exemplares que dão sentido à análise, escolhemos um esporte coletivo e outro individual, quais sejam, basquete em cadeiras de rodas e atletismo. O primeiro por sua dimensão de jogo, mais presente em relação a eventos individuais, e por ser altamente performático; com o segundo, com foco na prova de salto em distância, tentamos analisar a profunda simbiose entre os atletas e suas próteses. As duas manifestações apontam uma presença muito marcante do aparato técnico que parece pretender dominar, disciplinar e potencializar o corpo deficiente, produzindo a possibilidade de uma estética do esporte paralímpico. Por fim apontamos elementos que oferecem novas discussões sobre o fenômeno, e como tal discussão pode proporcionar uma análise do tempo contemporâneo.