Resumo

A descoberta e produção de novas fontes, assim como o surgimento de novos métodos e abordagens teóricas, provocaram a renovação dos estudos sobre a ditadura militar. Versões longamente partilhadas e estereótipos estão sendo problematizados, ao passo que, na esteira das revelações feitas pela Comissão Nacional da Verdade e de um expressivo crescimento do interesse acadêmico, novas interpretações não param de vir à tona. Silêncios e esquecimentos estão sendo superados, enquanto temas até então tabus passam a ser encarados, sem parti pris, por uma nova geração de pesquisadores. Como apontam diversos especialistas, vivenciamos uma mudança geracional. Nessa dinâmica, dois temas têm despertado instigantes debates: a propaganda política e o consenso social estabelecido em torno do regime militar. As comemorações do Sesquicentenário da Independência do Brasil (1972), que reúnem diversos objetos privilegiados para o estudo dos temas citados, carecem de mais atenção por parte dos historiadores. Entre outros objetos que escaparam aos poucos estudiosos das comemorações, é digno de destaque os eventos de caráter esportivo: uma série de competições nacionais e internacionais de pequena, média e grande amplitude, que ocorreram em todas as regiões do país, entre abril e setembro de 1972. No presente trabalho, analisa-se um evento esportivo específico da programação das comemorações dos 150 anos da Independência nacional: a terceira edição das Olimpíadas do Exército, que aconteceu entre 26 de abril e 7 de maio de 1972, em Porto Alegre. Discute- se, mais precisamente, como é que, imerso no contexto das comemorações, o evento esportivo estabeleceu pontos de contatou com o projeto de propaganda política em voga no país. Simultaneamente, trata-se a terceira edição das Olimpíadas do Exército como um objeto privilegiado para compreensão das relações instituídas entre regime militar e sociedade civil em sua complexidade. Dentro dessa perspectiva, debate-se, também, como é que o evento esportivo constituiu-se em um mecanismo de reafirmação de um consenso social estabelecido em torno da ditadura militar. Evento popular e de grande porte, a terceira edição das Olimpíadas contou com a participação de 1.400 atletas, 900 militares e 500 civis, que representavam tradicionais clubes brasileiros, como, por exemplo, Flamengo e Corinthians. Afora as atividades esportivas, a terceira edição das Olimpíadas do Exército contou, ainda, com diversos eventos de outra natureza, que foram associados a sua programação: mostra de artes, exposição histórica, festival destinado para o público infantil, desfile de escolas de samba cariocas, bem como shows de renomados artistas nacionais, tais como Elis Regina, Roberto Carlos, Martinho da Vila, Clara Nunes, entre outros.