Esporte é Saúde? Reflexões Acerca das Relações Entre Saúde e Esporte de Alto Rendimento...
Integra
INTRODUÇÃO:
O presente estudo é um aprofundamento teórico, fruto de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do Curso de Educação Física da UNOCHAPECÓ (Universidade Comunitária Regional de Chapecó), intitulado "Reflexões acerca da qualidade de vida e saúde dos atletas de futsal de alto rendimento", que teve como objetivo investigar as relações entre saúde e a prática esportiva de atletas de futsal da divisão especial de Santa Catarina. A partir dos dados dessa pesquisa, procurou-se relacionar as considerações evidenciadas, a partir de pressupostos críticos de entendimento, realizando um aprofundamento a partir dos elementos apresentados. Esse aprofundamento possibilitou refletir acerca do fenômeno esportivo, seu processo de idealização e algumas implicações de sua projeção no cenário social, cultural, econômico e político da sociedade estrutural contemporânea. A relevância desse estudo se constitui a medida que a percepção hegemônica de entendimento aponta no sentido de que "vida de atleta é sinônimo de saúde", o que, aliado as notícias veiculadas pela mídia, influenciam decisivamente o imaginário social, levando à um entendimento fragmentado, alienado e submisso. Trabalhos como esse podem proporcionar mais elementos nesse debate, no sentido de proporcionar maior clareza acerca das relações entre o esporte de alto rendimento e saúde.
METODOLOGIA:
Esse estudo se constitui como sendo de natureza descritiva e foi desenvolvido a partir dos seguintes elementos: a) Trabalho de Conclusão de Curso, onde foram realizados quatro estudos de caso com quatro atletas acima de 35 (trinta e cinco) anos, pertencentes a equipes de futsal que disputaram o campeonato estadual de futsal de Santa Catarina, no ano de 2004 (divisão especial - categoria adulto). Para a obtenção de informações, foram realizadas entrevistas, a fim de perceber de forma mais concreta, os dramas, perspectivas e angústias dos atletas, o que proporcionou subsídios importantes na construção desse estudo (cabe lembrar que as informações obtidas nos estudos de caso não representam verdades absolutas, em vista do reduzindo número de atletas e especificidades de outras modalidades esportivas, mas podem proporcionar subsídios importantes nas discussões propostas por esse estudo); b) aprofundamento teórico, fundamentado a partir de pressupostos críticos de entendimento, aprofundando os elementos apresentados no TCC; c) experiências dos pesquisadores no campo dos esportes, o que proporcionou maiores possibilidades no processo de interpretação das situações que se desenvolveram. Portanto, a articulação entre as informações das entrevistas do TCC, o marco referencial e as experiências dos pesquisadores constituiu o triângulo metodológico para a construção de elementos de análise, que permitiram o aprofundamento teórico desse estudo.
RESULTADOS:
Os dados obtidos pelos estudos de caso evidenciam as seguintes questões: 1) os atletas consideram realmente, que o fato de participarem de processo de treinamento os torna mais saudáveis; 2) os atletas não são esclarecidos quanto aos processos de treinamento, salvo raras exceções; 3) a alta incidência de lesões, é considerada normal, por parte dos atletas; 4) acreditam realmente que a prática esportiva (de alto rendimento) pode proporcionar saúde; 5) contraditoriamente, todos os atletas entrevistados afirmaram já ter jogado lesionados ou ingerido medicamentos para suportar a dor; 6) da mesma forma, todos afirmaram que o convívio com a dor é cotidiano, precisando de medicamentos para superá-la. As informações obtidas apontam para as seguintes interpretações: as relações entre esporte de rendimento e saúde retratam de forma clara a relação entre saúde e esporte difundida à população ‘consumidora’. Cenas oriundas do mundo esportivo, tais como doping, lesões, a lógica do esporte moderno, a ideologia do corpo belo, que supostamente representa o corpo saudável; o rendimento obrigatório e o rendimento possível, são temas que precisam de maior esclarecimento junto a população. Nesse sentido, urge a necessidade de relativizar de forma mais concreta as relações entre saúde e os cenários esportivos de alto rendimento, proporcionado maiores esclarecimentos, visto que esse estudo apresenta informações diferentes daquela veiculada pela maioria dos meios de comunicação.
CONCLUSÕES:
Os caminhos que o esporte de alto rendimento vem tomando e sua relação com o desenvolvimento do processo civilizatório, precisam de uma discussão mais aprofundada. Não cabe mais perguntar o que é bom para o esporte, mas como ele pode ser positivo para a saúde, para as pessoas, independente de se tratarem de atletas ou não. O fenômeno esportivo aponta o caminho de um processo de idealização, realçado pela ilusória busca do aperfeiçoamento infinito, e ergue-se como uma figura simbólica muito poderosa, que não pode mais ser percebida como fonte de saúde. As declarações dos atletas acima dos 35 anos apresentam a dura realidade que esses foram/são submetidos (cabe lembrar dos esportes individuais, tais como a ginástica rítmica desportiva, que geralmente apresentam cargas de trabalho mais altas). As reflexões traçadas neste estudo trazem a preocupação com o processo de desenvolvimento do esporte, suas relações com a saúde e o cada vez mais corrente sacrifício do corpo. Portanto, se manifesta de forma urgente, a necessidade de refletirmos sobre a possibilidade de construir novas relações em contextos esportivos voltados para o alto rendimento, o que implicaria também em um repensar na própria estrutura social, política e econômica que sustenta estas práticas, para que estas manifestações possam realmente contribuir com princípios que auxiliem no desenvolvimento de seres humanos comprometidos com seu próximo e com o mundo onde vivem.