Resumo

Ao falar de esporte no Brasil, a primeira prática que vem à mente é o futebol, um esporte de origem britânica. Não há dúvidas quanto ao papel crucial do Império britânico na regulamentação e difusão de boa parte dos esportes que se popularizaram em todo mundo ao longo dos dois últimos séculos. No entanto, essa versão da história da difusão do esporte carrega uma percepção engessada das (inter)relações entre Estados e nações. A ideia de uma marinha britânica toda poderosa espalhando seu poder pelo mundo também através do esporte é verdadeira, mas exclui a questão da recepção, ou seja, a forma como povos das regiões a que chegou se apropriaram dessas práticas culturais. Nesse sentido, proponho aqui a análise da história de desporto que percorreu um caminho distinto. Refiro-me aqui ao basquetebol, um esporte autenticamente americano. O que uma análise sobre o basquete pode oferecer é a possibilidade de pensar sobre um esporte altamente popular em todo mundo, que não foi criado na Inglaterra, e que se distancia da ideia de imperialismo cultural. Esse esporte foi inventado nos Estados Unidos, em 1891, dentro da Young Men’s Christian Association (YMCA) ou, como é chamada no Brasil, Associação Cristã de Moços (ACM). No ano seguinte já há registro do desporto sendo praticado em vários locais do mundo. O basquete chegou rapidamente à América do Sul através da própria ACM, uma instituição transnacional, responsável pela criação de outros dois esportes extremamente populares e americanos: o vôlei e o futsal. O basquetebol, enquanto esporte de origem estadunidense, representa, em certo sentido, o deslocamento de um centro de poder para outro, isto é, da Europa para os Estados Unidos. No entanto, não representa uma prática cuja presença em território nacional possa ser compreendida simplesmente a partir de uma ideia de dominação ou imposição cultural. No país do futebol, por muitas vezes, as histórias de outros esportes e práticas corporais ficam em segundo plano. A proposta aqui presente é apresentar o contexto da chegada do basquete ao Brasil e tecer uma análise do processo de circulação cultural que envolveu a entrada desses esportes em outros países da América do Sul (Brasil, Argentina, Uruguai e Chile).          As fontes utilizadas são documentos oficiais da ACM e de clubes e ligas esportivas, além de jornais e impressos do final do século XIX e do início do século XX.