Resumo

Este texto trata da atuação diplomática do Governo Lula, no período que antecedeu a realização da Copa do Mundo FIFA 2014, tendo em vista suas práticas discursivas no contexto internacional. Com vistas a compreender as estratégias mobilizadas pelo governo federal no sentido de legitimar a realização do megaevento esportivo no Brasil, são examinados discursos proferidos pelo presidente. Para além de reconhecer o carisma do ex-presidente Lula, num plano geral, a avaliação da diplomacia do seu governo, deve também considerar sua capacidade de projetar uma imagem positiva do Brasil para o mundo, o que colocou o país na vanguarda da diplomacia. A despeito da indiscutível projeção econômica alcançada especialmente após a estabilização da economia durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), especialmente após a “Era Lula” (2003-2011) o Brasil passou a figurar entre os principais atores que se articulam na agenda política mundial. Nesse contexto, a imagem pessoal de Lula foi ainda mais presente do que o próprio país, o que confirma, em tese, o verdadeiro sucesso de sua diplomacia em projetar sua própria imagem como a personificação do Brasil. Do ponto de vista pragmático, o amplo esforço diplomático promovido pelo governo Lula viabilizou a assinatura de uma série de acordos internacionais e de parcerias comerciais, cujos resultados práticos podem ser considerados extremamente positivos especialmente para aprojeção da imagem do país no plano internacional. Durante a gestão Lula, além de realizar inúmeros eventos comerciais, o Brasil sediou os Jogos Panamericanos de 2007 e foi escolhido como país-sededa Copa do Mundo FIFA de 2014 e dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, os dois mais importantes megaeventos esportivos do planeta. Ao mobilizar a retórica do “legado” associando-a aos pressupostos psicossociais notadamente essencialistas que definem o “povo brasileiro”, o conjunto de práticas discursivas elencadas pelo presidente Lula buscava, simultaneamente, enaltecer as qualidades naturais do país de dimensões continentais, a capacidade empreendedora dos brasileiros, e, sobretudo as supostas“ simpatia e hospitalidade natas” dos habitantes das terras brasilis, os mais apaixonados pelo esporte bretão. Ao nutrir-se da ampla herança cultural da brasilidade na qual o futebol assume centralidade, o projeto de se realizar um evento como a Copa do Mundo FIFA no Brasil, se apresentava na retórica lulista como um dos seus pilares discursivos, uma vez que o mito do “país do futebol” é amplamente cultivado tanto no imaginário social brasileiro, quanto na opinião pública internacional.