Estereótipos de Gênero e Educação Física: Diálogos com Estudantes de Ensino Médio
Por Myllena Camargo Oliveira (Autor), Angelita Alice Jaeger (Autor), Vanessa Juliane da Silva Roth (Autor).
Em Arquivos em Movimento v. 15, n 1, 2019. Da página 75 a 96
Resumo
Analisamos a percepção dos/as estudantes acerca dos estereótipos de gênero e seus efeitos nas práticas corporais e esportivas, enfatizando a desconstrução dos mesmos de modo a privilegiar aulas de Educação Física equitativas. Colaboraram 63 estudantes de ensino médio de uma escola pública que, após cumprirem os requisitos éticos, participaram de oficinas pedagógicas com vistas a problematizar estereótipos e refletir acerca da Educação Física. Utilizamos uma abordagem mista em uma pesquisa etnográfica, cujas fontes de pesquisa foram um questionário que apresentava afirmações sobre os estereótipos de gênero no esporte e observações participantes registradas em diário de campo produzidas no decorrer das oficinas. Os resultados apontam que a maioria dos estereótipos de gênero nos esportes foram refutados, alguns produziram dúvidas e poucos foram reafirmados pelos/as estudantes. Contudo, os efeitos são observados nas habilidades motoras visto que são apontadas como fatores limitantes da participação de muitas garotas, mas, também, de alguns garotos em aulas de Educação Física. Debates, estratégias de aula e conteúdos podem ser grandes aliados na desconstrução de estereótipos e, nesse caso, o/a professora/a ocupa uma posição central ao promovê-la. Concluímos que problematizar o tema nas aulas de Educação Física é imprescindível para uma educação justa e equitativa.
Referências
ADELMAN, M. Mulheres no Esporte: Corporalidades e Subjetividades. Movimento. Porto Alegre, maio. 2006.
ALTMANN, H. Educação Física Escolar: relações de gênero em jogo. São Paulo: Cortez, 2015.
______; AYOUB, E.; AMARAL, S. C. F. Gênero na Prática Docente em Educação Física: “Meninas não gostam de suar, meninos são habilidosos ao jogar?”. Estudos feministas. Florianópolis, p. 491-501, maio/ago. 2011.
ANDRÉ, M. E. D. A. de. Etnografia da prática escolar. 8. ed. Campinas: Papirus, 1995.
ANDRES, de S.; JAEGER, A. A.; GOELLNER, S. V. Educar para a diversidade: gênero e sexualidade segundo a percepção de estudantes e supervisoras do programa institucional de bolsa de iniciação à docência (UFSM). Rev. educ. fis. UEM, v. 2, n. 2, Maringá, abr/jun, p. 167- 179, 2015. Disponível em: http://dx.doi.org/10.4025/reveducfis.v26i2.23016
ANDRÉS, Ó. del C. et al. Gender equity in physical education: The use of language. Motriz: Revista de Educação Física, Rio Claro, v. 20, n. 3, p.239-248, set. 2014. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: .
ANGROSINO, M. Etnografia e a observação participante. Porto Alegre: Artmed, 2009.
BACCEGA, M. O estereótipo e as diversidades. Revista de Comunicação e Educação, v. 13, p. 07-14, 1998.
BARBOSA, J. P. Aulas de educação física no ensino médio mistas e separadas por sexo: quais as implicações no comportamento e aproveitamento dos alunos de uma escola estadual da cidade de Porto Alegre. 2012. 47 f. TCC (Graduação) - Curso de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012. Disponível em: .
CHAN-VIANNA, A. J.; MOURA, D. L., MOURÃO, L. Educação Física, gênero e escola: uma análise da produção acadêmica. Movimento, Porto Alegre, v. 16, n. 02, p. 149-164, abr./jun. 2010.
CRESWELL, J. W. Projeto de Pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. Porto Alegre: Artmed, 2010.
DAALEN, C. V. Girls' Experiencies in Physical Education: Competition, Evaluation and Degradation. The Journal Of School Nursing, Thousand Oaks, v. 21, n. 2, p.115-121, abr. 2005. Disponível em: .
DUNNING, E.; MAGUIRE, J. As relações entre os sexos no esporte. In: KNIJNIK, J. D. Gênero e esporte: masculinidades e feminilidades. Rio de Janeiro: Apicuri, 2010. p. 344.
FREITAS, L. L. de. Gênero e futebol feminino: preconceitos, mitos e sexismo na prática discursiva de docentes da Educação Física. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 27, 2004, Caxambu. Anais 27ª Reunião Anual da Anped. Rio de Janeiro: Anped, 2004. p. 1 - 14. Disponível em: .
GAION, P. A.; VIEIRA, L. F.; SILVA, C. M. L. da. Síndrome pré-menstrual e percepção de impacto no desempenho esportivo de atletas brasileiras de futsal. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, Florianópolis, v. 11, n. 1, p.73-80, jan. 2009. Disponível em: .
GALLAHUE, D. L. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. Porto Alegre: AMGH, 2009.
GIBBS, G. Análise de dados qualitativos. Porto Alegre: Artmed, 2009.
GOELLNER, S. V. A educação dos corpos, dos gêneros e das sexualidades e o reconhecimento da diversidade. Cadernos de Formação RBCE, mar. 2010. p. 71-83.
______, S. V. Mulher e esporte no Brasil: entre incentivos e interdições elas fazem história. Pensar A Prática, Goiás, v. 8, n. 1, p.85-100, jun. 2005. Disponível em: .
______. Mulher e esporte no Brasil: fragmentos de uma história generificada. IN: SIMÕES, A. C.; KNIJNIK, J. D. (Orgs.). O mundo psicossocial da mulher no esporte: Comportamento, gênero, desempenho. São Paulo: Aleph, 2004.
GOMES, P. B.; SILVA, P. QUEIRÓS, P. Equidade na educação. Educação Física e Desporto na Escola. Porto/PT: Associação Portuguesa A Mulher e o Desporto, 2000.
JACO, J. F. Educação física escolar e gênero: diferentes maneiras de participar das aulas. Dissertação (Mestrado) -Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Unicamp, Campinas, 2012.
JAEGER, A. A.; GOELLNER, S. V. O músculo estraga a mulher? A produção de feminilidades no fisiculturismo. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 19, n. 3, p. 955-976, dez. 2011. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: .
______. Relações de gênero e a medida do músculo no esporte. IN: Priscila Gomes Dornelles, ILEANA Wenetz, Maria Simone Vione Schwengber (Org.). Educação física e gênero: desafios educacionais. Ijuí: Unijuí, 2013. p. 267-289.
JESUS, M. L. de; DEVIDE, F. P. Educação Física escolar, co-educação e gênero: mapeando representações de discentes. Movimento, Porto Alegre, v. 12, n. 3, p. 123-140, set./dez. 2006. Disponível em: .
LE BRETON, D. Desaparecer de si: uma tentação contemporânea. Petrópolis: Vozes, 2018.
LYSARDO-DIAS, D. A construção e a desconstrução de estereótipos pela publicidade brasileira. Stockholm Rewiew of Latin America Studies, v. 2, p. 25-35, 2007.
LOURO, G. L. Gênero, Sexualidade e Educação: uma perspectiva pós-estruturalista. Rio de Janeiro: Vozes, 2014.
PÊCHEUX, M. Análise de discurso. Campinas: Pontes Editores, 2012.
PUGA, V. L. Violência de gênero/Intolerância. In: COLLING, A.M.; TEDESCHI, L. A. (Orgs) Dicionário Crítico de Gênero. Dourados/MS: Ed. UFGD, 2015.
PUPO, K. R. Violência moral no interior da escola: um estudo exploratório das representações do fenômeno sob a perspectiva de gênero. 2007. 242 f. Dissertação (Mestrado)
- Curso de Psicologia da Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
RODRIGUES, C. Derrida, Jacques (desconstrução, différance). In: COLLING, A.M.; TEDESCHI, L. A. (Org.) Dicionário Crítico de Gênero. Dourados/MS: Ed. UFGD, 2015.
SARAIVA, M. do C. Co-educação física e esportes: quando a diferença é mito. 2. ed. Ijuí: Unijuí, 2005. 200 p.
SARDENBERG, B. C. M. De sangrias, tabus e poderes: a menstruação numa perspectiva sócio-antropológica. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 2, n. 2, p.314-344, 1994. Disponível em: .
SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 71 – 99, jul./dez. 1995.
SOUSA, E. S. de; ALTMANN, H. Meninos e meninas: Expectativas corporais e implicações na Educação Física Escolar. Campinas: Cadernos Cedes. Ano XIX, v. 48, p. 52-68, 1999.
SOUZA, R. F. de. Cultura do estupro: prática e incitação à violência sexual contra mulheres. Estudos Feministas, v. 25, n. 1, 9-29, jan/abr, 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ref/v25n1/1806-9584-ref-25-01-00009.pdf
STOCKER, P. C; DALMASO, S. C. Uma questão de gênero: ofensas de leitores à Dilma Rousseff no Facebook da Folha. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 24, n. 3, p. 679-690, dez. 2016. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: .
TEIXEIRA, F. A. Educação Física escolar: reflexões sobre as aulas de exclusão. Motrivivência, Florianópolis, n. 32/33, p. 335-343, jun/dez. 2009. Disponível em: .
UCHOGA, L. A. R. Educação Física escolar e relações de gênero: Risco, confiança, organização e sociabilidades em diferentes conteúdos. 2012. 190 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestrado em Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2012. Disponível em: .
______, ALTMANN, H. Educação física escolar e relações de gênero: diferentes modos de participar e arriscar-se nos conteúdos de aula. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 38, n. 2, p. 163-170, 2016.
VENTURINI, I. V. Musas fitness e a tríade corpo-consumo-felicidade. 2016. 70 f. TCC (Graduação) - Curso de Educação Física - Bacharelado, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2016.
WENETZ, I. Bonecas e barbies no contexto escolar: feminilidades em pauta?. In: DORNELLES, P. G.; WENETZ, I.; SCHWENGBER, M. S. V. (Orgas). Educação Física e Gênero: Desafios Educacionais. Ijuí: Unijuí, 2013. p. 368.