Resumo

A relação entre exercício físico e desenvolvimento cognitivo, especialmente nas funções executivas (FEs), é bem estabelecida, mas seus mecanismos ainda são pouco compreendidos. Abordagens recentes analisaram variáveis quantitativas e qualitativas do exercício em crianças e adolescentes, entretanto, com descrição superficial das intervenções empregadas. O principal desafio corrente é definir parâmetros para uma dosagem apropriada de estímulos cognitivos e coordenativos que levem a melhorias nas FEs. Objetivo: O presente trabalho tem como objetivos: a) analisar a qualidade metodológica dos estudos sobre a melhoria das FEs em crianças e adolescentes através de atividades físicas cognitivamente demandantes; b) propor uma abordagem de tarefas enriquecidas cognitivamente com base em parâmetros de estimulação cognitiva. Métodos: Revisão narrativa que analisou impacto de tarefas esportivas cognitivamente demandantes nas FEs de crianças e adolescentes, comparando com tarefas convencionais. Utilizou-se a escala SANRA para organizar a metodologia. Foram incluidos artigos em inglês, português e espanhol sobre melhorias nas FEs, excluindo duplicatas, artigos sem foco nas FEs, opinativos, livros e resumos de conferências. Os dados foram registrados e analisados em quatro categorias: descrição de variáveis quantitativas; variáveis qualitativas; implementação de enriquecimento cognitivo; e reprodutibilidade metodológica. Resultados: A busca inicial resultou em 212 artigos; após revisão, foram selecionados 49. A análise da qualidade metodológica desses artigos mostrou que a área carece de protocolos que apresentem detalhamento metodológico, o que dificulta a avaliação da efetividade das intervenções. Além disso, ainda não existe uma definição precisa de enriquecimento cognitivo. Nossa proposta estabelece o enriquecimento cognitivo como uma forma de desenhar atividades esportivas que estimulem sistematicamente as FEs. Propomos a integração de três princípios: 1) alta interferência contextual; 2) resolução de problemas psicomotores variados; e 3) desafio sistemático das diferentes subdimensões das FEs com base em seus construtos. Por meio de uma especificação do terceiro princípio, desenvolvemos parâmetros de estimulação das FEs. Esses parâmetros permitem alinhar as demandas cognitivas das tarefas desenhadas com os mecanismos específicos do construto cognitivo em foco e podem ser mais bem compreendidos na forma de frases intencionais como por exemplo: “reordenar uma sequência de itens/ações recém vistos/ouvidos/sentidos em função de alguma característica pré-estabelecida”. Conclusão: A revisão destacou falhas metodológicas nos estudos analisados, sublinhando a necessidade de metodologias detalhadas para identificar atividades eficazes no desenvolvimento das FEs em crianças e adolescentes. O próximo passo é construir tarefas esportivas, porém agora é possível modular cognitivamente essas tarefas uma vez que as variáveis qualitativas estão sistematizadas por meio de parâmetros claros e objetivos.

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