Resumo

Desde a sua gênese, ao longo do século XIX, a Educação Física (EF) sempre teve uma relação próxima com a saúde, com um papel significativo na construção de um corpo biológico. Contudo, mesmo que o conceito de saúde ao longo dos anos tenha ampliado, alguns pesquisadores apontam que ainda se nota um olhar predominantemente biomédico e de prevenção de doenças, até mesmo na escola, com a reprodução de  uma concepção biológica de corpo e saúde. Nestas circunstâncias, a EF escolar tem um papel importante de colaborar com a construção de uma educação para a saúde, de forma que desenvolva as práticas corporais e atividades físicas como parte de um estilo de vida de forma saudável e sustentável para a organização da sociedade. Por isso, a escola se torna o local propício para contribuir com a educação para a saúde, buscando desenvolver hábitos, mas entendendo complexidades, como por exemplo, os determinantes sociais da saúde e possíveis barreiras que podem estar relacionadas para alcançar estes hábitos. O presente estudo, de abordagem qualitativa, teve o objetivo de investigar as estratégias de ensino para o trato da temática saúde pelos professores de EF do Ensino Médio na rede estadual de Pernambuco. A pesquisa foi aprovada no comitê de ética e pesquisa e realizada por meio de entrevistas semiestruturadas com sete professores, cujos dados foram trabalhados a partir da análise de conteúdo categorial por temática de Bardin. A análise foi conduzida em três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento de dados. A partir dessa abordagem foi possível organizar as falas em três categorias: “Percepções do professor de EF”, “Estratégias pedagógicas para promover a saúde” e “Desenvolvimento da temática saúde nas aulas”. Observou-se que os professores entendem saúde de forma ampliada, abrangendo aspectos físicos, mentais e sociais, conforme a sugestão da Organização Mundial da Saúde, embora a aplicação prática frequentemente priorize questões biológicas e comportamentais. As estratégias pedagógicas relatadas foram variadas, incluindo aulas práticas, uso de vídeos, debates e integração de tecnologias digitais. Os professores destacaram o uso de práticas corporais e atividades físicas como ginástica, dança, lutas e jogos para vincular saúde ao cotidiano dos alunos. Além disso, enfatizaram a importância de promover hábitos saudáveis e a conscientização crítica sobre o tema, embora enfrentem desafios como a escassez de recursos e limitações estruturais das escolas. A pesquisa revelou que, embora os professores demonstrem esforço em tratar a saúde de forma integral, há lacunas na conexão com determinantes sociais mais amplos, como desigualdades e questões culturais. A maioria das intervenções ocorre de forma improvisada, em resposta a situações contextuais, sem um planejamento integrado à cultura corporal. Os resultados apontam para a necessidade de uma formação continuada que possibilite aos professores a construção do planejamento e execução de práticas pedagógicas mais sistemáticas, conectando a saúde aos aspectos críticos e culturais. Conclui-se que a EF escolar possui potencial para incentivar o cuidado e manutenção da saúde individual e coletiva, desde que fortalecida por estratégias pedagógicas contextualizadas e suporte institucional adequado.

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