Resumo

A incidência de quedas na marcha é alta na população idosa. Além disso, o risco de quedas aumenta quando duas tarefas motoras são combinadas. Desta forma, é importante investigar o efeito do histórico de quedas nas estratégias locomotoras adotadas pelos idosos quando a marcha é combinada com outra tarefa, como por exemplo, pegar um objeto. Possíveis alterações nas estratégias locomotoras seriam dependentes do índice de dificuldade da tarefa manual? O objetivo deste estudo foi investigar a estratégia locomotora utilizada para pegar um objeto em função dos diferentes níveis de dificuldade da tarefa manual em idosos com e sem histórico de quedas. Trinta idosos participaram deste estudo e foram distribuídos em dois grupos (n=15): idosos sem histórico de quedas (ID) (71,8 ± 5,8 anos); idosos que apresentaram pelo menos uma queda no último ano (QID) (70,1 ± 5,1 anos). Os participantes foram convidados a andar e pegar um objeto. O objeto foi posicionado em um suporte ao lado direito dos participantes e sua altura foi padronizada de acordo com a altura do trocânter de cada indivíduo. Ainda, este objeto foi posicionado em um suporte com dois tipos de base: estável (larga) e instável (estreita). Ainda, para cada base, o objeto foi posicionado entre dois obstáculos. A distância entre estes obstáculos foi manipulada: curta e longa. O nível de dificuldade destas condições foi a distância entre os obstáculos e o tipo de base. Para cada condição, foram realizadas 3 tentativas, sendo todas randomizadas. Duas câmeras de vídeo (VICON - Bonita) foram posicionadas nos planos frontal e sagital para análise do padrão de movimento. Uma análise qualitativa por meio de inspeção visual foi feita de acordo com as imagens provenientes das câmeras de vídeo. Assim, com base nestas imagens, uma análise de frequência (%) foi realizada para verificar em qual fase da marcha (suporte duplo ou simples: ipsilateral/IL e contralateral/ CL), os participantes fizeram contato com o objeto. O teste estatístico do qui-quadrado revelou diferença para os tipos de suporte entre os grupos (p < 0,001). Os idosos com histórico de quedas apresentaram maior frequência de duplo suporte (63,4%) em comparação aos idosos sem histórico de quedas (24,5%). Em relação ao suporte simples, ambos os grupos apresentaram maior frequência no padrão ipsilateral (QID: 29,1% | ID: 43,1%) do que no contralateral (QID: 7,5% | ID: 32,3%). Estas diferenças foram observadas em todas as condições, independente do índice de dificuldade da tarefa. Com base nestes resultados, pode-se concluir que idosos com histórico de quedas apresentaram maior incidência de duplo suporte, sugerindo que eles necessitam aumentar a base de suporte para garantir a estabilidade durante a execução da tarefa manual. A maior incidência no padrão ipsilateral para os ambos os grupos, indica uma alteração na coordenação entre membros, de antifase para em-fase. Estas alterações nas estratégias locomotoras não ocorrem em função do índice de dificuldade da tarefa.

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