Resumo

O presente estudo procurou descrever as estratégias de solução de problemas usadas por dois sujeitos considerados como mentalmente retardados quando cada um deles trabalhou sozinho, e quando em interação. Mostra ainda, como essas estratégias se modificam, e como o adulto atuou para ajudar os sujeitos na resolução do problema. O delineamento deste estudo foi o seguinte: inicialmente, cada um dos sujeitos era apresentado, em sessões individuais, à situação problema com o menor nível de complexidade (casa 1, tarefa mais simples, primeira sessão). O desempenho dos sujeitos nessa fase, determinava a evolução seguinte das sessões a saber: se conseguissem sozinhos montar corretamente a casa 1, passavam para o nível II de complexidade - segunda casa - continuando a trabalhar sozinhos. Nova solução correta, remetia-os ainda sozinhos ao nível III - terceira casa. Ou seja, se o sujeito fosse capaz de solucionar o problema sozinho, seria mantido nesta condição até o final (considerava-se como solução correta, a montagem final da casa de cada nível com o uso correto de todas as partes, sem que se deixasse sobrar nenhuma). Se o sujeito não atingisse a solução correta no primeiro nível de complexidade, passava, já na segunda sessão, a trabalhar em dupla, no nível que não fora ultrapassado. A partir daí, trabalhavam em dupla nos demais níveis. Se apesar do trabalho em dupla os sujeitos não conseguissem resolver o problema corretamente, o pesquisador intervinha, ajudando-os, fornecendo pistas etc., o que podia ocorrer em qualquer um dos três níveis de complexidade do material (casa 1, 2, 3, ou na segunda, terceira ou quarta sessões). Com base na observação das vídeo-gravações das ações exibidas pelos sujeitos, elaborou-se dois subconjuntos de categorias, a partir das quais se procedeu a análise das ações do sujeito dirigidas ao material e ao outro. As ações do adulto dirigidas aos sujeitos foram também categorizadas para que se pudesse proceder a análise do tipo de ajuda oferecida, e do tipo de dificuldades que essa ajuda procurava superar. Os resultados mostraram que: ,(i) os sujeitos não chegavam à solução correta do problema sozinhos, nem com ajuda do parceiro, para tanto foi preciso ajuda do adulto. (ii) a qualidade das interações entre os sujeitos se modificava a partir das intervenções do adulto provocando mudanças na dinâmica do par. Tais mudanças se traduziam por um novo posicionamento de um dos sujeitos frente ao outro, mediante a situação problema colocada favorecendo um processo de troca. (iii) o adulto procurou atuar a partir das dificuldades apresentadas pelos sujeitos fornecendo ajuda necessária para levá-los à solução correta do problema. Verificou-se neste estudo, de acordo com as análises de Vygotsky sobre a criança deficiente, que a interação social pode ser uma situação propícia para que se possa apreender as dificuldades sentidas por essas crianças e a forma como lidam com tais dificuldades, e que a qualidade das interações é como apontam as análises deste autor, imprescindível a mudanças qualitativas nas aquisições destas crianças.

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