Resumo
Recentemente, estudos de revisão têm confirmado que a coordenação motora apresenta uma associação positiva com a prática de atividade física e com a aptidão física relacionada à saúde em população pediátrica. Além disso, o nível inicial de coordenação motora está associado às alterações subsequentes no nível de atividade física durante a infância e a adolescência. Entre os instrumentos de avaliação da coordenação motora, destaca-se o Körperkoordinationstest für Kinder – KTK. O KTK tem sido bastante usado em estudos relacionados aos benefícios da coordenação motora sobre variáveis relacionadas à saúde da população pediátrica. Destes, destacam-se, pelo seu maior número, os trabalhos que tiveram como objetivo associar o desempenho motor na bateria KTK com variáveis biológicas do indivíduo. A presente tese de doutoramento teve como objetivo explorar a contribuição das características biológicas, do estilo de vida, dos fatores sociais e ambientais para explicar a variabilidade inter-individual em crianças pré-púberes, de ambos os sexos (de 7 a 9 anos de idade), nos aspectos relacionados ao desempenho motor, especificamente quanto ao desempenho em teste de coordenação motora. Os achados apontam para a seguinte direção: a) há uma tendência de relação positiva entre maiores valores de índice de massa corporal (IMC) e menores resultados de desempenho no KTK em crianças e adolescentes; b) a maturação biológica exerce pouco efeito sobre as diferenças entre os sexos nos diferentes desempenhos em testes físicos e de coordenação motora em crianças com idades entre 8 e 9 anos. Contudo, o estado maturacional parece contribuir nas diferenças inter-individuais encontradas em sujeitos do mesmo sexo tanto em alguns dos testes de aptidão física (meninos e meninas), quanto na coordenação motora (especificamente no sexo masculino); c) há indícios de que o estado maturacional, embora em pequena proporção, apresenta relação com o desempenho do KTK em crianças pré-púberes do sexo masculino, notadamente pela relação inversa e de magnitude moderada que obteve com a prova de equilíbrio em marcha à retaguarda. Contudo, em estudos cuja performance no KTK seja avaliada através da obtenção do quociente motor total, este efeito pode tornar-se pouco substancial; d) parece haver um efeito direto da maturação no tamanho do corpo, que por sua vez estabelece uma inter-relação positiva com a aptidão física em meninas, principalmente nos testes em que a massa corporal não é deslocada; e) o melhor desempenho em teste de coordenação motora parece estar associado aos fatores biológicos, mas a associação tende a aumentar com a adição de atributos de estilo de vida, fatores sociais e fatores ambientais em ambos os sexos. A inspeção do modelo de regressão logística que incluiu variáveis dos quatro domínios indicou que nos meninos os melhores resultados de coordenação motora foram associados à idade (9 anos), ao estado de maturação biológica (atrasados), à massa corporal (normoponderais), à escolaridade da mãe (graduação) e à área de residência da família (urbana). Nas meninas, parece que a idade (9 anos), a massa corporal (normoponderais), a participação esportiva e a atividade física materna (suficientemente ativa) estiveram relacionadas com os melhores resultados de coordenação motora. Os resultados apontaram para uma contribuição da biologia por se para explicar a variabilidade inter-individual na coordenação motora e, paralelamente, revelaram matrizes de determinantes distintas para cada sexo. Em conclusão, durante a primeira década de vida, em particular nos anos de educação primária, as diferenças entre meninos e meninas podem ser uma consequência de fatores morfológicos, biológicos, culturais e ambientais. A compreensão dos aspectos relacionados às características de uma intervenção, que tenha como propósito desenvolver a coordenação motora de crianças, requer a revisão sistemática dos seus preditores e a maneira específica como associam-se em ambos os sexos. Foi neste contexto que a presente tese de doutoramento foi inserida, na medida em que os modelos ecológicos são úteis para enquadrar potenciais fatores que influenciam o comportamento da saúde, pois enfatizam os contextos ambientais do comportamento, bem como as influências sociais. Isso pode levar a uma compreensão aprofundada das múltiplas esferas de influência sobre o comportamento motor e pode ajudar a orientar o desenvolvimento da intervenção que tenha como objetivo a melhoria da coordenação motora.