Resumo

A Fibromialgia (FM) é uma condição dolorosa crônica, de etiologia pouco esclarecida, que acomete principalmente as mulheres. Distúrbios do sono e excesso de peso são características evidentes na FM. Alterações neuroendócrinas podem estar relacionadas à manifestação da fibromialgia, porém a relação destas alterações com distúrbios do sono e sintomas dolorosos foi pouco investigada nestes pacientes. O hormônio grelina parece estar associado à promoção do sono e ao efeito antinociceptivo. O objetivo deste estudo foi avaliar relações entre as concentrações plasmáticas de grelina acilada, parâmetros elacionados ao sono e perfil doloroso em mulheres com fibromialgia atendidas pelo Ambulatório de Reumatologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Curitiba/Paraná. Participaram do estudo 17 mulheres com FM com idade entre 20 e 50 anos e 16 mulheres saudáveis pareadas pela idade e índice de massa corporal. Foram avaliados a intensidade dolorosa, o número de pontos dolorosos, parâmetros relacionados ao sono através de actimetria e questionários, variáveis bioquímicas (proteína C reativa ultra-sensível, adiponectina, leptina e grelina acilada) e o nível de atividade física. Realizou-se análise de comparação entre os dois grupos, além da análise de correlações entre as variáveis. Utilizou-se análise de regressão linear múltipla no grupo FM. Os dois grupos foram similares em relação à idade, perfil antropométrico, nível econômico e nível total de atividade física. O grupo de pacie tes apresentou comprometimento da qualidade de sono, maior nível de atividade noturna, menor eficiência de sono, maior número de despertares e passaram mais tempo acordados ao longo da noite quando comparados ao grupo controle. Os marcadores inflamatórios (proteína C reativa ultra-sensível e adiponectina) não diferiram entre os dois grupos. As concentrações plasmáticas de leptina foram maiores nas pacientes do que nas controles (p < 0,01), porém, não existiram correlações da leptina com qualquer variável no grupo FM. As concentrações plasmáticas de grelina acilada foram menores no grupo de pacientes com fibromialgia comparadas ao grupo controle (p = 0,05). Não existiram correlações entre grelina acilada e variáveis de sono, porém este hormônio apresentou correlação inversa com a média de dor (r = - 0,67; p < 0,01) e com a dor geral (r = - 0,67; p < 0,01) no grupo FM. Nesse mesmo grupo as concentrações de grelina acilada, isoladamente, foram responsáveis por uma variação de 29% na intensidade média de dor e 35% na dor geral avaliada. O hormônio grelina acilada parece estar associado à intensidade dolorosa e pode fazer parte de um mecanismo complexo que regula a modulação da dor em pacientes com fibromialgia.

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