Resumo

O sedentarismo e os maus hábitos alimentares têm sido associados fortemente com o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis globalmente na população adulta. No Brasil, cada vez mais nota-se uma mudança no estado nutricional, da desnutrição à obesidade com grande velocidade na população de baixa renda. As crianças vêm apresentando menores índices de atividade física e piora da qualidade de sua alimentação, predispondo-se aos riscos do sedentarismo e aumento da obesidade, principalmente nos centros urbanos. O presente estudo tem como objetivo comparar a atividade física, o gasto energético decorrente da atividade física e a ingestão calórica entre crianças de ambos os sexos, com diferentes estados nutricionais, em uma população escolar de baixa renda na zona sul da cidade de São Paulo. A população estudada é composta de todas as crianças (n=174) com idades entre 8,9 e 14,6 anos (X=10,0 +1,13 anos), matriculadas nas 3ª e 4ª séries de ensino fundamental de escola pública estadual na região do bairro Jabaquara, zona sul da cidade de São Paulo. Para a avaliação do estado nutricional foi utilizado o critério antropométrico de peso (P) e estatura (E) corporais e o índice de massa corporal (P/E2 ). Os pontos de corte assumidos para a classificação nutricional foram: obesidade P/E2 > +2 escores Z; eutrofia P/E2 <2 > ou = -1Z; déficit nutricional P/E2 < -1Z. Para a obtenção dos níveis de atividade física espontânea e a estimativa do gasto energético, foram utilizados sensores de movimento uni-axiais (CSA) em dias de semana e em finais de semana com variação de 4 a 7 dias de utilização, além da aplicação do Questionário Internacional de Atividade Física (QIAF), sob a forma de entrevista aos pais, em uma amostra dividida em dois grupos. O primeiro composto por crianças obesas (n=7) e o segundo formado por crianças não obesas (n=19) A ingestão calórica foi obtida através da aplicação de recordatório de 24 horas e do questionário de freqüência alimentar em entrevista às crianças. Para caracterização socioeconômica e familiar foram encaminhados questionários para serem respondidos pelos pais ou responsáveis. Os resultados mostraram que mesmo em uma população de baixo nível socioeconômico não foram detectados casos de desnutrição mas sim o aparecimento da obesidade, evidenciando-se, dessa forma, um processo de transição nutricional. As crianças obesas apresentam maior gasto energético decorrente da atividade física, porém menor tempo, em minutos, de atividade física em relação às crianças não obesas. Além disso, apresentam maior ingestão calórica e de carboidratos, não havendo, no entanto, diferenças entre a densidade energética da Resumo xxxiii alimentação entre ambos os grupos. Os dados obtidos pelo QIAF mostraram predominância de atividades físicas de intensidade moderada com mais de 60 minutos de duração diariamente, além de ficarem menor tempo sentados durante os finais de semana que em dias de semana. As correlações entre o QIAF e CSA quanto à intensidade foram baixas. Conclui-se que as crianças obesas apresentam maior gasto energético decorrente da atividade física e maior ingestão calórica que as não obesas, porém menor tempo total de atividade física em minutos. Estratégias envolvendo promoção da atividade física e educação nutricional devem ser estimuladas para a melhoria do estilo de vida entre crianças de baixo nível socioeconômico.