Resumo

Esta pesquisa caracteriza-se como um estudo fenomenológico do corpo no Projeto Praia Sem Barreiras em Recife-PE. O objetivo da pesquisa é compreender a percepção que as pessoas com deficiência têm do próprio corpo e de sua experiência no referido Projeto, no sentido de identificar possibilidades de conhecimento sobre o fenômeno investigado e sobre a vivência do projeto. A fenomenologia como método de pesquisa permitiu descrever, interpretar e compreender os relatos de dez participantes do Projeto. Os relatos foram obtidos por meio de entrevista semiestruturada que foram realizadas na praia, na tenda do Projeto durante os fins de semana. O principal referencial teórico utilizado na pesquisa encontra-se em Merleau-Ponty, Nóbrega, Courtine e Schilder. A compreensão dos relatos aponta-nos para significados polissêmicos a respeito do corpo, a saber: a percepção de corpo como movimento; padrão social em transformação; saúde e cuidado de si; felicidade ou forma de vida.  Encontramos ainda uma percepção do corpo associada à tradicional concepção do corpo máquina. Na compreensão das possibilidades e perspectivas relacionadas com a percepção do corpo ao participar do Projeto relataram as percepções que tiveram, tais como sentir a areia nos pés; o medo de entrar na água e também a satisfação de superá-lo; o sabor da água salgada na boca; o movimento de agarrar-se à cadeira anfíbia como uma nova situação; o fato de conhecer outras pessoas e poder fazer amizades; a satisfação de sair do calçadão e poder ver o mar de perto, entre outras. Com base na compreensão dos relatos, percebeu-se uma experiência vivida contemplada de sentimentos e emoções em relação ao corpo e à superação de limites não apenas físico, mas também subjetivos, existenciais e sociais. Assim, a partir da abordagem fenomenológica, pode-se concluir que este estudo apresenta novos olhares em relação às abordagens tradicionais sobre o corpo e a pessoa com deficiência, a percepção, a sensibilidade e a criação de possibilidades de escuta dos sujeitos que vivem uma dada condição humana e existencial, no sentido de investir em descobertas e ampliar a percepção do corpo e da sensibilidade para além dos padrões dominantes de corpo e aptidão física. Cada corpo é singular e essa percepção é compreendida como horizonte existencial e como horizonte epistemológico no campo da Educação Física, como uma das perspectivas de escuta da experiência vida que investe no corpo e em suas sensações como forma de ser e de estar no mundo com os outros.

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