Ética e bioética nas intervenções profissionais da educação física

Parte de A Ética e a Bioética na Preparação e na Intervenção do Profissional de Educação Física . páginas 62 - 72

Resumo

Ao reconhecer a importância de discutirmos este tema tão presente em nossas vidas como profissionais de Educação Física, proponho-me a fazer algumas reflexões convergentes aos aspectos éticos e especificidades bioéticas de nossas intervenções profissionais. Este modo de olhar traz consigo o convencimento de quem busca um caminho para uma vida profissional com uma prática repleta de sentido. Assim, de início, o tema ético é aquele que se ocupa do sentido da vida e na profissão que abraçamos, o sentido que imprimimos às nossas intervenções. Esta reflexão crítica sobre a intervenção profissional em Educação Física situa-se revestida nas entranhas dos valores presentes nas expressões humanas, em sua feição ética no âmbito sócio-cultural brasileiro. Este âmbito de consideração delimita um comportamento social típico de uma população, o que corresponde à determinada especificidade bioética. Historicamente, o marco inicial do postulado de Galileu, século XVI – XVII, fez surgir as ciências experimentais e inaugurou uma série de revoluções científicas, a primeira delas, a Revolução Atômica, cujo legado foram os estudos da energia nuclear, que nos deu terapias nucleares, mas nos deixou a bomba atômica. O termo bioética, surgido nos anos 70 como um neologismo entra na perspectiva histórica, veio em meio à segunda revolução científica, à revolução molecular, desenvolvida a partir da década de 50, em busca de descobertas que estamos hoje vivenciando, qual seja a estrutura do DNA, abrindo amplo horizonte do conhecimento apontado pela Engenharia Genética, em estudos que conduzem à clonagem. Esta segunda revolução nos traz alertas, diante das implicações do Projeto Genoma. William Saad Hossne, fundador e presidente de honra da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB) e presidente da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), em sua entrevista à revista UNICSUL no ano de 2000, refere-se ao impacto dessa descoberta da Genética em seu efeito de clonagem, atribuindo o termo bioética a um pesquisador norte-americano que dizia: “Nós devemos estar preocupados para que os avanços da nossa Biologia não sejam usados contra a humanidade, precisamos fazer a discussão ética da aplicação desse conhecimento”. Esse pesquisador norte-americano juntou BIO, que significa “vida”, com ÉTICA, em que os valores permeiam os relacionamentos humanos, e assim, nasce a BIOÉTICA. Agora passados 34 anos, a Bioética já se amplia, não se circunscreve à preocupação inicial que era o mau uso da Biologia Molecular. Hoje, a Bioética está imersa no significado de uma ética das ciências da vida, da saúde e do meio ambiente, e por isso mesmo, caracterizada pela interdisciplinaridade. A Ética e a Bioética na Preparação e na Intervenção do Profissional de Educação Física 61 O reconhecimento da Educação Física como disciplina de estudo que se constitui privilegiadamente pela interlocução com outras disciplinas biológicas e sociais, imprime em suas intervenções profissionais um caráter ético construtivo, em defesa da qualificação da vida humana. Portanto em sua especificidade, tais intervenções guardam consigo o alargamento de ir além do mau uso, dando a fisionomia à ciência da Educação Física em sua premissa básica interdisciplinar que é a de que a ciência precisa estar revestida de sentido para a humanidade. Assim, a aplicabilidade da ciência em Educação Física, orquestrada em suas possibilidades interventivas, requer o desdobramento reflexivo-crítico-criativo, gerador de atitude coerentemente ética. A ética não é privilégio de iluminados cientistas, ela é parte de todo o ser humano e importa colocá-la em prioridade no exercício do mundo das intervenções profissionais, sobretudo nas decisões em Educação Física, pela qualidade de sua prática, em que se sabe intensificada e aprofundada pela proximidade no relacionamento humano. Assim, as especificidades bioéticas estão inseridas nas modalidades das intervenções profissionais e se apresentam na qualidade como essas intervenções se manifestam no campo concreto dos relacionamentos humanos em nosso meio, campo este, caracterizado no objeto da profissão, qual seja o movimento humano.