Etnografia Sobre a Prática do Gateball no Parque Farroupilha
Integra
INTRODUÇÃO:
O Parque Farroupilha é um dos mais freqüentados espaços públicos de Porto Alegre, neste local, reúnem-se uma infinidade de grupos urbanos. Dentro deste contexto, o Grupo de Estudos Socioculturais em Educação Física vem realizando estudos sobre os grupos que se apropriam do espaço do Parque para desenvolverem as mais variadas práticas de lazer e esporte.
A presente pesquisa está inserida nestes estudos, e versará sobre o grupo envolvido com a prática de um jogo chamado Gateball. Este grupo, foi o escolhido, por apresentar características peculiares que o distingüe dos demais, como o fato de ser constituído por imigrantes Japoneses, que além disso realizam um jogo tradicional japonês, praticamente desconhecido para os demais freqüentadores do parque.
Partindo-se de um olhar etnográfico, este trabalho preocupou-se com a compreensão deste jogo e de suas especificidades, com o objetivo de compreender e interpretar o grupo, as razões, os sentidos que dão à esta prática, aquilo que os une, as relações existentes no seu interior. O problema norteador do trabalho foi o de como o jogo Gateball, enquanto uma prática de lazer, se relaciona com a identidade cultural dos seus praticantes no grupo específico estudado?
Outras questões consideradas relevantes para a estruturação deste trabalho foram: Do que se trata o jogo Gateball? (suas origens, dinâmica, e organização) Quem são os praticantes deste jogo? Como é constituído o grupo? Quais os significados que dão à esta prática?
METODOLOGIA:
Por ser de cunho Etnográfico, neste estudo foi dada prioridade à análise por dentro do grupo, aliada à experiência pessoal no campo.
Sendo assim, após as primeiras aproximações, iniciou aquela que é considerada condição necessária para qualquer investigação de caráter antropológico. A observação participante, e que consiste, na vivência do investigador no contexto que pretende estudar, é nesta experiência, que ele, um estrangeiro naquele determinado universo cultural em que estará envolvido, entrará em contato com os modos de vida onde estão presentes diferentes sistemas de significação, valores e comportamentos sociais, os quais precisará desvelar (Stigger 2000).
Para a fidedignidade da observação participante, todo contato com o grupo específico estudado, foi registrado em diários de campo, cerca de trinta, instrumentos essenciais para análise dos dados obtidos. Paralelo a este trabalho, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas,oito entrevistas, por permitir um certo grau de liberdade ao entrevistador. Os informantes entrevistados, não foram escolhidos antecipadamente, mas a partir do desenvolvimento do processo de investigação, este que mostrou as potencialidades daqueles que vieram a tornar-se informantes privilegiados. A quantidade de pessoas entrevistadas também foi delimitada no decurso das investigações, assim que considerou-se ter atingido os objetivos do trabalho, ou logo que novas informações não fizeram mais do que confirmar as obtidas anteriormente.
RESULTADOS:
O gateball, é um jogo de origem japonesa, introduzido no Brasil por imigrantes. Em síntese, o jogo possui uma dinâmica que se assemelha ao críquete, tradicional jogo Inglês. Neste estudo específico, não houve um maior aprofundamento nas questões como regras, e possibilidades objetivas do jogo em si, mas sim uma tentativa de se estudar o grupo a partir das relações e elementos observados na prática do jogo.
O grupo reunia-se semanalmente para praticar o jogo, respeitando as regras originais, e se
comunicavam apenas em japonês. A faixa etária do grupo varia de 72 à 89 anos.
Apesar de possuir um aspecto lúdico, o grupo participava de campeonatos de Gateball, organizados por equipe, em categorias de idade acima dos cinqüenta anos, esta limitação de idade, se deve ao fato do Gateball ser um jogo predominantemente praticado por idosos, o que conforme os informantes do grupo, facilitava, por um lado a convivência com o grupo mas também a preocupação com a sua continuidade, até porque alguns jogadores sentiam visivelmente limitações físicas durante as partidas.
As competições congregavam pessoas advindas de várias localidades do RS, e que além dos jogos em si, eram encontros com apresentações culturais japonesas, comidas típicas e artesanato. O que demonstrou a existência de uma rede de pessoas da colônia japonesa, que reúnem-se em torno desta prática no estado.
CONCLUSÕES:
Partindo-se do princípio de que o mesmo indivíduo, que realiza uma prática com um determinado grupo, acaba envolvendo-se com um certo sentimento de identidade coletiva, pois naquele determinado espaço, ele relaciona-se com os outros através de um determinado padrão de sociabilidade que os une. Desvelar o padrão que une os participantes do grupo envolvido com o Gateball, como se constrói na rotina e nas relações existentes no grupo, foi o foco norteador deste trabalho.
A partir das informações tomadas nas entrevistas, da visão do grupo sobre a prática, pode-se compreender que mesmo o Gateball sendo um jogo de origem japonesa, a forma que ele é praticado no Brasil, faz com que assim como o futebol para os brasileiros, tenha uma inquestionável contribuição para a construção da identidade dos indivíduos da colônia japonesa, não como japoneses do Japão, mas como japoneses do Brasil procurando manter e valorizar os traços culturais herdados dos primeiros imigrantes.
Sendo assim, o grupo de praticantes estudado envolvia-se com este jogo carregando-o de representações e valores. O que permitiu o entendimento do Gateball, não apenas como um jogo, mas uma atividade repleta de significados que vinha por reforçar o sentimento e construção de uma identidade japonesa de seus praticantes.