Resumo

A hegemonia da racionalidade neoliberal tem produzido novas formas de controle e regulação das populações. Enquanto instituição inserida nesse contexto, a universidade vem sendo capitulada pelas leis do mercado e chamada a operar a construção de certo tipo de sujeito afeito a um novo ethos de vida. A partir da noção de currículo como prática de significação que projeta e governa identidades, e compreendida como modalidade de investimento, como qualquer outra mercadoria ou bem de consumo, a formação superior não apenas determina em grande parte o que as pessoas devem fazer, mas, principalmente, quem são ou podem ser. Por conseguinte, especifica, também, o que elas não devem ser e os problemas que isso pode acarretar para quem não se alinhe aos seus ditames. Com base nesses pressupostos, neste artigo se examinam algumas das atividades presentes em um curso de formação inicial em Educação Física de uma Instituição de Ensino Superior privada que visam subjetivar seus sujeitos de modo a atender as referidas demandas. Para tanto, foram submetidos à análise cultural os textos escritos e orais coletados mediante observações seguidas de registros em diário de campo e compilação de mensagens eletrônicas encaminhadas à comunidade universitária, além das campanhas publicitárias e informações disponíveis no site institucional. Os resultados apontam que o modo de subjetivação colocado em circulação pelo currículo projeta a identidade do sujeito EU S/A.

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