Resumo

Este artigo procura analisar como sucedeu a relação entre os eventos hípicos e a tradição familiar na prática do hipismo no Rio Grande do Sul (RS) nas primeiras décadas do século XX. Para entender esta configuração, a partir de noções sociohistóricas, efetuou-se uma análise documental de fontes impressas, como também foi reproduzida uma fonte oral. A análise das fontes evidenciou que a conjuntura particular da prática hípica do RS, à medida que foi se conformando, permitiu alcançar o cenário esportivo nacional e internacional, por meio da participação de atletas em Jogos Olímpicos. Observou-se que diversos atributos característicos de um esporte moderno já se faziam presentes, ainda que com diferentes particularidades, no contexto hípico, desde o início de seu aparelhamento. Tal arranjo denotava a atuação de, afora homens militares e civis, mulheres atreladas às elites econômicas do estado, bem como o investimento financeiro de suas famílias, descortinando um cenário em que o RS firmava etapas e ligações consecutivamente na vanguarda deste esporte olímpico. Tais representações sociais de distinção e sociabilidades relacionadas ao hipismo, bem como a sua dinâmica constante, foram avigoradas pela introdução do capital privado nesta prática. Apurou-se que o hipismo se apresentou como agente e como objeto de um cenário em que o estado age beneficiando, basicamente, interesses privados.

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